PRODUÇÃO TEXTUAL II- VERSÃO ORIGINAL (COM ERROS E TUDO)
“Os
 touros”           Eles já  existiam, já estavam lá, nas cavernas 
pré-históricas, lado a lado dos  homens de Neanderthal, em suas formas 
primitivas, bizarras: búfalos,  bisões...os touros; figuras mágicas em 
cores e contornos.            Antes mesmo da criação do mundo cristão 
dos hebreus,  o povo egípcio  explicava a origem do universo: forjado 
pelo ferreiro divino, Ptah,  representado pelo boi-Ápis, um “touro de 
capa” (auto-castrado) num gesto  de esparramar seu sêmen deu origem a 
tudo o que se diz “princípio de  vida”, concretizada pela força de seu 
coração e do verbo “ser”; o  touruno Rá que na terra era representado 
por Osíris. Este, quando morreu  tornou-se o soberano do reino dos 
mortos, na misteriosa região abaixo  do horizonte ocidental, onde o 
“touro de ouro”, o sol, se punha todos os  fins de tarde e para onde 
todos iriam um dia, para terem suas almas  julgadas. É a primeira 
representação do inferno e a primeira espécie de  purgatório de que a 
história tem conhecimento.           Mais uma vez,  sinônimo de 
princípio, o princípio da “história” (com o uso da escrita) ,  no que 
diz respeito à primeira letra do alfabeto, teve origem do  pictograma 
hieróglifo da cabeça de um touro invertido: o Aleph dos  egípcios e dos 
fenícios, o Alef dos hebreus, o Alpha dos gregos e enfim o  nosso “A”.  
         Depois disso, os touros se difundiram por todo  tempo e espaço.
 O touro dos assírios dominou terras (entre rios) e o céu  com sua 
violência e crueldade alada. Na pérsia, os touros sustentavam  em suas 
cabeças os palácios dos reis de Pasárgada. No Velho Testamento,  os 
hebreus já divinizaram um “bezerro de ouro”, uma imagem  (aparentemente)
 inofensiva de um futuro touro, símbolo de escravidão e  repressão por 
parte dos egípcios aos povos conquistados. Nas lendas e  mitos 
greco-romanos conta-se a história de amor entre o divino  Zeus/Júpter 
que se enamora da adorável Europa apresentando-se a ela sob a  forma de 
uma figura taurina surpreendentemente dócil que a deixa  montar. Desta 
união nasce Minos, o divino rei cruel, tirânico e  egocêntrico que fora 
presenteado com um touro branco que deveria em  certa feita ser servido 
em sacrifício, o que não aconteceu. Como punição  dos  demais deuses, a 
traição da mulher de Minos com um “touro comum”,  que gerou o monstruoso
 Minotauro; aprisionado no Labirinto do Palácio de  Cnossos, em Creta e 
que fora morto tempos depois por Teseu.            Até hoje, existem 
vestígios das cerimônias que aconteciam na antiga ilha  das “mulheres de
 cintura fina” em devoção ao touro. Tais honrarias eram  feitas por 
jovens selecionados que dançavam por trás dos touros  selvagens e 
demonstravam sua destreza fazendo “ginástica” entre os  enormes chifres.
 As touradas e as corridas de touros da Espanha e de  Portugal são 
exemplos disso.           A reverência religiosa na qual os  bovídeos ou
 bovinos são considerados animais sagrados e não podem ser  feridos são 
mantidos na Índia; fato inverso da cultura  hispano-portuguesa. Voltando
 ao Egito, o touro sagrado quando morria era  mumificado e colocado no 
túmulo correspondente mediante cerimônia  elaborada em sinal de luto e 
em sua cabeça era afixado um disco dourado,  símbolo da força vital do 
sol que era engolido todos os dias e logo  mais parido por Nut (o céu), 
“a vaca divina”. Se olharmos para o verso  da cédula de um dólar, 
veremos um olho (símbolo de Osíris) sobre uma  pirâmide, o grande deus 
com cabeça de touro. Uma demonstração do poder  de tal “moeda”.         
   Na astronomia, a constelação zodiacal de  touro é composta pelas 
estrelas conhecidas como as Híades e as Plêiades.  Além delas, Aldebarã:
 a grande estrela avermelhada, freqüentemente  chamada de “o olho de 
touro”. O touro do céu é manco, tem apenas meio  corpo e como diz o 
poeta Manilius: “Touro se curva fatigado pelo peso da  Ursa Maior” e a 
chama de “dives puellis”, “rico em pureza”  (profundamente inocente).   
         Os astrólogos afirmam que a posição  dos astros na hora exata 
do nascimento de uma pessoa, além dos  movimentos astrais posteriores, 
influem no caráter e no seu destino. O  touro, na astrologia, é de 
terra, é o segundo signo do zodíaco, regido  pelo planeta Vênus; diz 
respeito às pessoas nascidas entre 20 de abril e  20 de maio (período 
mais pleno da primavera), representada pela figura  de Afrodite (grega) 
ou Vênus (romana). No horóscopo chinês é mais  complexo. Os touros podem
 ser de metal, de água, de madeira, de fogo ou  de terra; regem o mês de
 janeiro assim como as três primeiras horas de  um novo dia e o inverno 
referente do oriente.           Nascer sob a  influência do signo astral
 de touro é: viver em busca de si mesmo  através do que consegue de 
material, é ser e ter constância (senão  obstinação), lealdade, 
serenidade, compreensão, sensibilidade, calma,  afeição, generosidade, 
praticidade, firmeza, e extrema sensualidade  erótica. A quem interessa 
saber um pouco mais... sua cor é o laranja:  nem vermelho (emoção 
impulsiva e violenta) nem amarelo (racional  desmedido).           Os 
touros não são bem vindos em “terra de  Sagitário” (como é denominada 
astrologicamente a  Espanha), onde  toureiros ou toureadores vestidos a 
caráter, com seu terno e casaco de  seda adornado com lantejoulas, com 
cabelos trançados ou à Juan Belmonte  parecem até dançar cadenciadamente
 o “pasodoble” como quem vai à guerra  (em marcha) combater o inimigo  
provocando, instigando a violência  “assíria” taurina; com suas 
“verônicas e  muletas vermelhas desafiadoras  numa praça de touros. E se
 o touro se recusa a sofrer sob o acicate,  empreende-se no lombo as 
bandarilhas negras, e quando cair, virá o golpe  fatal: a punhalada 
final da pontilha. – Que entrem os picadores! E não é  mesmo verdade que
 deles se aproveita tudo?           O que é um touro,  senão um “boi 
inteiro” (não castrado), um ruminante, um quadrúpede de  tração. Na 
metáfora feminina “estar com eles”  é estar “naqueles dias”;  na 
metáfora masculina, ser um “touro” é ser o tal: fogoso e robusto.  
Agora, enquanto boi... é ser “aquele que ostenta um belo chifre” (em  
sentido figurado) é o parceiro de uma “vaca” qualquer (se é que me  
entende); uma paródia do Minotauro moderno.           Em síntese: ora o 
 touro é um deus, um ser de luz, uma estrela, um ser sagrado cheirando a
  incenso. Ora o é o próprio diabo, o satã, é profano, a própria 
escuridão  dos poços de enxofre. Um touro é um “touro”.

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