sábado, 25 de janeiro de 2014

Cástela... PRODUÇÃO TEXTUAL (COM ERROS E TUDO)

Não faz muito tempo. Fiz a minha primeira viagem sozinha.
- não sei como fiz para chegar lá.
         ...Muito sonolenta, me pus a caminhar; e quando eu já estava bastante cansada, eu me deparei com uma estradinha: estreita e sombria, coberta por alta e densa copa de árvores nada comuns na região.
         Tudo que lembro, é que resolvi me aproximar aos poucos; e me chamou a atenção, o chão coberto de folhas, tão estranhas quanto às árvores.
         Aquele pedaço de lugar contrastava com tudo o que havia em volta, ao redor.
         Veio um vento fazendo um barulho esquisito, lá de dentro, lá do fundo e vinha devagar e ao mesmo tempo forte, mexendo os galhos das árvores e derrubando mais folhas, e levantando uma poeira fina, que me acertou os olhos distraídos.
         Eu já estava tonta de cansaço, de sono e agora de fascinação. Então, por que, para que me esforçar em abrir os olhos?!
(...)
         Eu troquei tudo por aquele mundo, e agora vivo em uma construção, que mais se assemelha a um...
castelo medieval, por sua arquitetura tão antiga; de paredes escuras, onde a umidade penetra nas fendas e cria alí o ambiente perfeito para que brotem delas umas minúsculas plantinhas: musgos, cogumelos esquisitos, avencas, samambaias, etc; sem falar no lodo que vem desde a parte mais alta até aqui.
         O que talvez, geralmente nos outros cause uma espécie de repugnância, em mim é exatamente o contrário. É uma das coisas mais bonitas do mundo:
-          do meu mundo. Um cenário melancólico e deprimente.
         Maravilhoso! Um sonho! Silêncio puro. É como o meu interior: fascinante!
         Do lado de fora , as paredes são tomadas pelas heras e por gavinhas de parreiras e pés de maracujás. Formam uma espécie de portal ou coisa parecida: um túnel.
         Quando chove, as rachaduras são percorridas por filetes d’água que caem do teto, em parte aberto, descoberto; e mais plantas nascem e crescem, e dançam.
         Às vezes, a água é demais e ultrapassa o limite, se emendando com o rio lá fora, sendo comum encontrar alguns peixes, aqui no lado de dentro, na enorme rachadura, no chão. Este lugar mais parece uma gruta: há eco nela, e o que ecoa é o barulho das gotas caindo na água, uma a uma.
         O rio lá fora é breve, calmo, estreito e claro. Faz quase que um círculo completo em volta da construção, se não fosse terminar em um lago, um pouco mais profundo; ou ter na outra extremidade uma curva em declínio, que alimenta uma pequena queda d’água.
         Ruínas. O que sobrou me parece uma torre, por sua altura e sua escada circular e comprida, longa.
         Há um vitral na única janela inteira. Quando o sol penetra por ela faz um desenhos lindos coloridos e móveis na parede oposta.
         Aqui não há inverno muito rigoroso. Não chega a cair neve.
- eu não gosto do inverno. Mas gosto do frio, do vento frio. Prefiro o outono.
Gosto de ver as folhas caindo, as árvores nuas. O chão coberto de folhas amarelas, pardas, marrons, vermelhas, ocres; secas.
-          as folhas das nogueiras são tão bonitas!
         Há muitos esquilos nessa época; época das bolotas nos carvalhos, das nozes nas nogueiras: são estranhas.
         O espaço é diferente. Muitos odores no ar: das flores do jardim.
-          é indescritível o que tais misturas podem me causar.
         Meu jardim não é uma enormidade. Mas quanto ao que contem... é incontável. Centenas de espécies de flores vivendo juntas, plantas das mais raras.
         Os girassóis, os pés de dentes de leão, e outras que nem sei que nome têm.
         Umas tão grandes, outras tão pequenas.
         No meio do jardim há um pé de carvalho. No limite que separa terra e água tem um pé de cedro; lá se pode encontrar orquídeas o ano inteiro: como depois de um há sempre outro, então é sempre, sempre.
         As flores... umas abriam pela manhã, outras pela noite. Umas duravam muito, outras muito pouco.
         No rio também haviam delas, em forma de caniços ou sobre as águas, flutuantes; como o casal de patos e seus patinhos, em fila. Algumas garças, as libélulas...
         Com muitos galhos pensos, para água; lamuriosos, parecem tristes: um salgueiro chorão.
-          gosto de ficar observando por horas sobre ou sob seus galhos.
         Vi um casal de cabras da montanha uma única vez. Desceram da floresta da parte de cima a procura da grama baixa em redor do rio, e do sol um pouco mais quente que fazia por aqui.
         De noite, bonito mesmo é o reflexo da lua na água, o barulho dos sapos na pedra enorme, no meio do lago; o barulho dos grilos...
         A medida que se sobe a montanha, a paisagem vai mudando aos poucos.
         No começo da elevação há bananeiras, são poucas, pode se contar nos dedos, eram únicas, quebrando toda a harmonia do outono do lugar; e parecem ilhadas, sobre um monte de terra meio vermelha: tropical, até.
- o sol batia um pouco mais forte.
         Há uma parte mais seca, de areia mais clara, e sete pés de coqueiro: limite com o precipício.
- creio que do lado leste, pois o sol sempre nasce deste lado, e morre atrás do castelo.
         À porta da construção, nogueiras em fila propositada: parecem guardas imóveis, fiéis.        
         Duas árvores enormes do lado esquerdo: um jequitibá sem vida e uma  secóia, que nessa época do ano parecia tão morta como seu companheiro; entrelaçados pelos galhos secos. Uma coruja vivia no buraco do tronco oco do jequitibá. Minha companhia noturna.
         A árvore do lado direito: um flamboiã. Seus galhos se estendiam até uma sacada.
         Eu adormeço, quando não ao som da chuva, olhando as estrelas.
         E quando não quero dormir, vou até a sacada, observar a névoa cobrir todo o espaço.
         Às vezes outras corujas vêem ao encontro desta que citei.
         Quanto à lua, sempre aparece por detrás dos coqueiros, sempre na época em que está cheia.
         Parece maior e mais próxima do que em qualquer outro lugar.
         Às vezes se pode ouvir o uivo dos lobos ecoando no espaço, e pode se ver as luzinhas dos vaga-lumes piscando... como indecisos.
         Um novo dia sempre chega. As águias e os falcões dão seus vôos a procura de peixes.
         Quando é primavera, o flamboiã é o primeiro a anunciá-la. O número de borboletas e abelhas triplicam.
         À beira do precipício, oposto ao dos coqueiros, há um campo de trigo silvestre.
-          como nos meus sonhos.
         Há um porão na parte mais escura do lugar.
-          acho que antigamente foi um salão.
         Uma vez, movida pela curiosidade, abri a passagem, mas tudo que pude ver foi uma revoada de morcegos barulhentos, incomodados. Senti medo, mas pus os pés nos primeiros degraus da escada. Recuei. A escada começou a ranger, como se fosse se desmanchar. Alguma coisa cobria os degraus, como areia movediça. Se houvessem cobras, escorpiões...
         Os ciprestes lá no cume da montanha, floresta de coníferas... só lá cai neve, de cobrir o chão inteiro.
- às vezes, o pico parecia flutuar nas nuvens, com seus pés de pinheiros e eucaliptos.
-          Devem haver pandas lá; coalas, ursos, gamos...
         Esta é a montanha mais alta do lugar; também é a mais afastada. Existem animais e plantas aqui que não podem ser vistas em nenhum outro lugar.
         O clima é instável, como os da quatro estações, possibilitando muitos “contrastes” de viverem juntos aqui.
- vivo sozinha neste lugar.
         Uma figura bizarra de pedra parece vigiar tudo em volta, lá do alto: é uma espécie de gárgula. Dentro da construção, há muitos desenhos nas paredes: são dragões de fogo; dois deles bem apagados, restando o último; que mais parece ter sido esculpido há pouco tempo, recentemente.
         Em dia de chuva, essas coisas de pedra, na pedra ganham uma aparência mais aterradora: relâmpagos azulados, o barulho dos trovões, parecem anunciar alguma guerra.
-          tudo isso é hipnótico.
(...)
                
-          quando eu morrer quero voltar aqui.


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