A brincadeira de menino que virou trabalho
sério.
Augusto Ruschi e o desafio do desenvolvimento
sustentável.
Dedico este trabalho a todos aqueles que,
como eu, são amantes fervorosos da natureza ou que, por menor que sejam suas
ações de consciência ecológica, por ela zelam todos os dias.
Quando temos que
falar de alguém tão importante, não só para o nosso país, mas para a humanidade
como foi Augusto Ruschi, a primeira preocupação é não saber se encontraremos as
palavras exatas para isso. Suas idéias, suas ações corajosas, seus feitos
“heróicos”, merecem uma grandiosa homenagem e agradecimentos eternos; e é com
grande satisfação que temos a oportunidade de realizar um trabalho em que
compartilhamos sua história de vida, seus ideais exemplares.
Augusto Ruschi, um
dos doze filhos de Giuseppe Ruschi e Maria Roatti, nasceu em dezembro de 1915, em Santa Teresa, uma
cidadezinha capixaba de serra que acolhia muitos imigrantes colonizadores
italianos. Ruschi foi mesmo destas pessoas predestinadas, tocadas por uma luz
divina que lhe dá plenos poderes de ação e saber natural. Nascido no meio de
uma família cuja ancestralidade ou hereditariedade gerou um homem que tinha,
até no nome, uma íntima ligação com a natureza e por ela levantou bandeira
lutando de todas as formas, com todas as armas, pela sua preservação, tendo sua
vocação despertada muito cedo por sua extrema curiosidade pelo próprio ambiente
familiar, na Chácara Anita, pois, seu pai tinha como profissão a lida com a
terra, gostava de cultivar flores que se tornaram o primeiro objeto de
observação do filho.
Em 1925, se mudou
para Vitória, se matriculou no colégio estadual e lá foi aluno de Maria Estela
de Novaes, professora de Ciências e História Natural, que primeiro percebeu e
incentivou suas aptidões “naturais” em suas travessuras, quando brincava com
insetos que levava em vidrinhos e caixas de fósforos,plantas e outros bichos.
Como se não bastasse chegou por muitas vezes a questionar as informações que
traziam os livros didáticos considerando erradas ou insuficientes quando
comparava com suas observações de campo. Ainda enumerando provas de sua
precocidade científica enviou materiais coletados por ele para os pesquisadores
do Museu Nacional e do Jardim Botânico em troca de bibliografias especializadas
e atuais.
Desses materiais
enviados o que mais impressionou aos pesquisadores, foi o de uma praga da
lavoura que costumava atacar os laranjais, pois, trazia informações que
descreviam minuciosamente seu ciclo de vida depois de observar mais de 500
caixas de lagartas. Foi dessa feita que o Prof. Mello Leitão, grande cientista
brasileiro, se interessou e acreditou no talento desse jovem autodidata de
apenas 12 anos ao repassar tais informações a Filippo Silvestre, cientista
italiano que por muito tempo buscava a solução para esse problema mundial. O
trabalho de observação de Ruschi era exatamente o que faltava para complementar
a pesquisa milionária de Filippo.
O rapazinho de Santa
Teresa orgulhava a classe de cientistas do Brasil e da Itália pela importante
contribuição nas pesquisas. Como recompensa fora apadrinhado pelo Prof. Mello
Leitão que cuidou do aperfeiçoamento científico e do desenvolvimento de suas
pesquisas à distância.
Cinco
anos depois, Ruschi começou a trabalhar como coletor de diferentes espécies de
plantas e bichos para o Museu Nacional e Jardim Botânico ajudando no
cadastramento da fauna e da flora da Mata Atlântica.
Foi
para o Rio de Janeiro em 1937, se tornou Professor da Universidade Federal do
Brasil (atual UFRJ) e amigo particular de Mello Leitão que continuou a apoiá-lo
e orientá-lo. Nesse período dedicou-se integralmente às suas pesquisas
bibliográficas e de laboratório que por muitas vezes continuavam sendo
contestadas por sua vivência. Também observou que algumas espécies de animais não
tinham recebido merecido estudo, os beija-flores estavam nessa lista. Desde
então passou a se dedicar a esses animais que eram de seu maior interesse e
paixão precisando voltar ao trabalho de campo que lhe era mais satisfatório.
Coincidentemente nessa mesma época adoeceu seriamente e precisou de tratamento
e convalescência junto à família, voltando à sua terra natal e ao contato com a
natureza. Aproveitando o empurrãozinho do destino e tempo não só levantou dados
científicos sobre esses bichinhos voadores como também sobre orquídeas e demais
plantas polinizadas por eles. Mas o fato mais impressionante foi ter conseguido
sua reprodução e domesticação em cativeiro, tornando-se internacionalmente
conhecido como o precursor dessas pesquisas e autor da maior obra escrita sobre
o assunto.
Embora
tenha voltado à sua terra não se esqueceu de seu grande amigo e incentivador. Sua
gratidão fez com que fundasse em sua Chácara Anita o Museu de Biologia Professor
Mello Leitão, no dia 26 de junho de 1949, data de aniversário da colonização de
Santa Teresa pelos italianos, para servir de suporte para a política estadual
de meio ambiente e para suas pesquisas. Desde essa data deu início ao
levantamento de trabalhos realizados até então e Para dar início às atividades
científicas do Museu, juntou todos os levantamentos que havia realizado até
então e deu início às suas publicações.
Os anos passaram e Ruschi acumulou
cargos em diversas áreas de conhecimento das Ciências Naturais e Humanas. Tais
capacidades múltiplas o tornaram capaz de prestar serviços ao Ministério da
Agricultura, Educação e Governo do Estado do Espírito Santo. Na Secretaria do
Ministério da Agricultura assessorou no desenvolvimento de projetos pioneiros e
políticas de preservação do meio ambiente implantando diversas unidades de
conservação.
Um dos episódios mais divulgados foi o de
1977 quando enfrentou o próprio Governador de seu Estado que desejava implantar
uma fábrica de palmitos enlatados, que seriam extraídos na Reserva de Santa
Lúcia (Estação Biológica do Museu Nacional), uma das regiões mais ricas do
mundo em flora epífita, não deixando entrar os fiscais do governo para fazer a
topografia do local. O evento foi divulgado pela imprensa para o mundo. Ruschi
se transformou num mito e recebeu manifestações de apoio no intuito de fazer o
Governador recuar com seu empreendimento.
Sua
preocupação ecológica não se resumiu à sua terra. Ele fez excursões pelo Brasil
fazendo observações e estudos aprofundados dos diversos tipos de vida animal e
vegetal das matas e florestas tropicais fazendo muitas descobertas maravilhosas
e ao mesmo tempo outras terríveis que colocavam em perigo a vida de todas as
espécies, inclusive a humana. Ele sofria penalizado e sua indignação aumentava
dando-lhe força, motivação e coragem de enfrentar quem quer que fosse para
defender as matas virgens e as reservas ecológicas. Ele teve a coragem de
enfrentar também o Governo Militar, denunciando a derrubada de áreas na
Amazônia, que ele considerava o maior crime contra a vida no planeta. Desde
então viu a necessidade de trabalhar a conscientização do impacto ambiental
espalhando seus conhecimentos sobre a complexidade e dependência que temos da
manutenção do equilíbrio natural, além de mostrar que é possível manter uma
relação respeitosa e sustentável com o meio ambiente alertando também para a
contenção da poluição. Um homem que passou 50 anos no interior da floresta para
estudá-la deveria saber muito bem o que dizia e merecidamente pode ser chamado
de “Dom Quixote das Matas”.
Ruschi também manteve
contato com tribos indígenas do Brasil e de seus países vizinhos com as quais
trocou informações importantíssimas sem registro científico sobre fauna, flora
e medicina natural de cura para determinadas doenças tropicais, fato que só
constatou o valor cultural desses povos e fez crescer a admiração e necessidade
de lutar em defesa deles.
Não considerando
suficientes as pesquisas e excursões, em seu país, realizou outras inúmeras por
todos os lugares do mundo, da Patagônia ao Alasca, registrando todas as suas
descobertas e conclusões que só vinham confirmar as suas pressuposições de que
é condição indispensável à preservação de certas áreas de reserva genética de
espécimes, principalmente aquelas já ameaçadas de extinção.
Considero ingrato os últimos anos da vida de
Augusto Ruschi, adoentado, com seqüelas de esquistossomose e malária,
contraídas durante suas pesquisas nas florestas e resquícios do veneno
absorvido de sapos. Procurou a cura na medicina convencional dos brancos, sem
sucesso. E o que é mais arbitrário, nem mesmo a cura natural indígena à qual se
submeteu o ajudou a enfrentar a doença. Ruschi morreu de cirrose hepática,
causada pelo comprometimento de seu fígado e hepatite B e C. Seu último desejo
foi ser enterrado nas matas da Reserva Biológica de Santa Lúcia, no dia 05 de
junho de 1986, não sei se por coincidência ou em sua homenagem, Dia Mundial do
Meio Ambiente. Após seu falecimento, recebeu da Câmara dos Deputados o título
de Patrono da Ecologia no Brasil.
A ideologia de Ruschi
não pode ser taxada de romântica ou utópica, pois é baseada em pesquisas
científicas sérias de objetos de observação concretos, com resultados claros e
conclusões evidentes. Ele não tem dúvidas de que precisamos fazer uso dos bens
da natureza, apenas quer que tenhamos a consciência de que esse uso deve ser
racional. Ruschi nem sequer nos deixou o trabalho de pensarmos em como fazer
isso uma vez que não poupou esforços para registrar tudo de todas as formas
possíveis. Não é à toa que realizou 450 trabalhos e publicou 22 livros, dentre
eles, os mais famosos, Aves do Brasil Volumes I e II, Beija-Flores do Espírito
Santo, Beija-Flores do Brasil Volumes I e II, Fitogeografia do Estado Espírito
Santo, Orquídeas do Espírito Santo, Agroecologia. Editou cerca de 400 números
do Boletim do MBML. Lançou duas teses principais: uma sobre as Reservas
Ecológicas e outra sobre o Desenvolvimento Agrícola Auto-sustentável em Florestas Tropicais
(tese lançada num dos primeiros Congressos Florestais de âmbito internacional,
em Roma, no ano de 1951, sendo muito bem recebida nos meios científicos e
difundida por toda a Europa). Tal tese gerou frutos, começaram a surgir
Reservas e importantes políticas de preservação do meio ambiente. Além disso, publicou
vários trabalhos sobre os efeitos poluidores de agrotóxicos sobre os
ecossistemas, sendo um dos primeiros a denunciar à sociedade os perigos do DDT,
tão utilizado após a Segunda Guerra Mundial no controle de pragas,
intensificado pela necessidade de aumentar a produção de alimentos, iniciando a
discussão dos efeitos poluidores de agrotóxicos sobre os ecossistemas. Há ainda
quem afirme que ainda falta muito para se resgatar de sua obra (escrita e
concreta) que o coloca entre um dos mil grandes homens que construíram o saber
e as idéias do século XX.
Se homens como
Augusto Ruschi, visionário do futuro, não tivessem existido não há dúvida de
que o processo de destruição do planeta já estivesse em estágio mais avançado.
Os amigos como Assis Chateaubriand servem de interlocutores dessa história
fabulosa, que deve ser perpetuada e gerar frutos de mudança na relação do homem
com seu meio ambiente através da educação ecológica infantil. Consciente disso
e movido por amor, André Ruschi, seu filho vem dando continuidade à sua obra, pesquisando
e elaborando teorias e metodologias sobre Educação Ambiental com crianças,
projeto desenvolvido pela Estação Biologia Marinha Ruschi (instituição de
pesquisas criada por Ruschi em 1970).
Ele conseguiu nos
tocar despertando a consciência ecológica, nos advertiu sobre as conseqüências
dos maus-tratos que dispensamos ao meio ambiente, nosso planeta, nossa casa. Nossas
florestas, há tempos, estão sendo desmatadas e velozmente se transformando em cemitérios. Engana-se
quem pensa que o único líquido derramado foi o da seiva das árvores. Houve
também o sangue de animais que vivem acolhidos em seus troncos, em suas
sombras, em seus galhos; que comem de suas folhas, se alimentam de suas
sementes e frutos ou do néctar de suas flores e aqueles que vivem em seu
subsolo junto às suas raízes.
O homem regido pelo egocentrismo,
alimentado pela ignorância está contribuindo de forma absurda para a marcha
para a extinção da vida no planeta terra. A ambição desmedida, o consumo
desenfreado, aliada à necessidade
A poluição das águas,
as queimadas, o desmatamento, o tráfico de animais desequilibra todo o
ecossistema. Será que não percebem que o ser humano também faz parte dessa
grande teia, que mais cedo ou mais tarde “pagaremos o pato”. A justiça agirá
cegamente. Seremos abatidos pelas forças naturais: terremotos, enchentes,
furacões, maremotos. Para a natureza todos somos culpados. Seremos julgados por
aqueles papeizinhos de bombom que jogamos inocentemente na rua, que se uniu aos
sacos de plásticos, que estavam juntos a uma caixa de isopor, que se enganchou
na boca de lobo da Rua da Maria que ficou alagada matando afogado seu pai
idoso. Mas, também teve o filho caçula do Pedro que morreu infectado por uma
doença dessas causada pela urina do rato, ou será de barata?
Se todos tivéssemos consciência
ecológica, educação ambiental e reconhecimento da importância do
desenvolvimento sustentável essa e outras histórias poderiam ser diferentes.
Augusto Ruschi e o desafio do desenvolvimento
sustentável.
Quando temos que
falar de alguém tão importante, não só para o nosso país, mas para a humanidade
como foi Augusto Ruschi, a primeira preocupação é não saber se encontraremos as
palavras exatas para isso. Suas idéias, suas ações corajosas, seus feitos
“heróicos”, merecem uma grandiosa homenagem e agradecimentos eternos; e é com
grande satisfação que temos a oportunidade de realizar um trabalho em que
compartilhamos sua história de vida, seus ideais exemplares.
Augusto Ruschi, um
dos doze filhos de Giuseppe Ruschi e Maria Roatti, nasceu em dezembro de 1915, em Santa Teresa, uma
cidadezinha capixaba de serra, que acolhia muitos imigrantes colonizadores
italianos. Podemos dizer que ele foi mesmo destas pessoas predestinadas,
tocadas por uma luz divina que lhe dá plenos poderes de ação e saber natural.
Nascido no meio de
uma família cuja ancestralidade ou hereditariedade gerou um homem que tinha,
até no nome, uma íntima ligação com a natureza e por ela levantou bandeira
lutando de todas as formas, com todas as armas, pela sua preservação, tendo sua
vocação despertada muito cedo por sua extrema curiosidade pelo próprio ambiente
familiar, na Chácara Anita, em
Santa Lúcia, pois, seu pai tinha como profissão a lida com a
terra, gostava de cultivar flores que se tornaram o primeiro objeto de
observação do filho.
Em 1925, se mudou
para Vitória, se matriculou no colégio estadual e lá foi aluno de Maria Estela
de Novaes, professora de Ciências e História Natural, que primeiro percebeu e
incentivou suas aptidões “naturais” em suas travessuras, quando brincava com
insetos que levava em vidrinhos e caixas de fósforos,plantas e outros bichos.
Como se não bastasse chegou por muitas vezes a questionar as informações que
traziam os livros didáticos considerando erradas ou insuficientes quando
comparava com suas observações de campo. Ainda enumerando provas de sua
precocidade científica enviou materiais coletados por ele para os pesquisadores
do Museu Nacional e do Jardim Botânico em troca de bibliografias especializadas
e atuais.
Desses materiais
enviados o que mais impressionou aos pesquisadores, foi o de uma praga da
lavoura que costumava atacar os laranjais, pois, trazia informações que
descreviam minuciosamente seu ciclo de vida depois de observar mais de 500
caixas de lagartas. Foi dessa feita que o Prof. Mello Leitão, grande cientista
brasileiro, se interessou e acreditou no talento desse jovem autodidata de
apenas 12 anos ao repassar tais informações a Filippo Silvestre, cientista
italiano que por muito tempo buscava a solução para esse problema mundial. O trabalho
de observação de Ruschi era exatamente o que faltava para complementar a
pesquisa milionária de Filippo.
O rapazinho de Santa
Teresa orgulhava a classe de cientistas do Brasil e da Itália pela importante
contribuição nas pesquisas. Como recompensa fora apadrinhado pelo Prof. Mello
Leitão que cuidou do aperfeiçoamento científico e do desenvolvimento de suas
pesquisas à distância.
Cinco
anos depois, Ruschi começou a trabalhar como coletor de diferentes espécies de
plantas e bichos para o Museu Nacional e Jardim Botânico ajudando no
cadastramento da fauna e da flora da Mata Atlântica.
Foi
para o Rio de Janeiro em 1937, se tornou Professor da Universidade Federal do
Brasil (atual UFRJ) e amigo particular de Mello Leitão que continuou a apoiá-lo
e orientá-lo. Nesse período dedicou-se integralmente às suas pesquisas
bibliográficas e de laboratório que por muitas vezes continuavam sendo
contestadas por sua vivência. Também observou que algumas espécies de animais
não tinham recebido merecido estudo, os beija-flores estavam nessa lista. Desde
então passou a se dedicar a esses animais que eram de seu maior interesse e
paixão precisando voltar ao trabalho de campo que lhe era mais satisfatório.
Coincidentemente nessa mesma época adoeceu seriamente e precisou de tratamento
e convalescência junto à família, voltando à sua terra natal e ao contato com a
natureza. Aproveitando o empurrãozinho do destino e tempo não só levantou dados
científicos sobre esses bichinhos voadores como também sobre orquídeas e demais
plantas polinizadas por eles. Mas o fato mais impressionante foi ter conseguido
sua reprodução e domesticação em cativeiro, tornando-se internacionalmente
conhecido como o precursor dessas pesquisas e autor da maior obra escrita sobre
o assunto.
Embora
tenha voltado à sua terra não se esqueceu de seu grande amigo e incentivador.
Sua gratidão fez com que fundasse em sua Chácara Anita
o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, no dia 26 de junho de 1949, data de
aniversário da colonização de Santa Teresa pelos italianos, para servir de
suporte para a política estadual de meio ambiente e para suas pesquisas. Desde
essa data deu início ao levantamento de trabalhos realizados até então e Para
dar início às atividades científicas do Museu, juntou todos os levantamentos
que havia realizado até então e deu início às suas publicações.
Os anos passaram e Ruschi acumulou
cargos em diversas áreas de conhecimento das Ciências Naturais e Humanas. Tais
capacidades múltiplas o tornaram capaz de prestar serviços ao Ministério da
Agricultura, Educação e Governo do Estado do Espírito Santo. Na Secretaria do
Ministério da Agricultura assessorou no desenvolvimento de projetos pioneiros e
políticas de preservação do meio ambiente implantando diversas unidades de
conservação.
Sua
preocupação ecológica não se resumiu à sua terra. Ruschi fez excursões pelo
Brasil fazendo observações e estudos aprofundados dos diversos tipos de vida
animal e vegetal das matas e florestas tropicais fazendo muitas descobertas
maravilhosas e ao mesmo tempo outras terríveis que colocavam em perigo a vida
de todas as espécies, inclusive a humana. Ele sofria penalizado e sua
indignação aumentava dando-lhe força, motivação e coragem de enfrentar quem
quer que fosse para defender as matas virgens e as reservas ecológicas. Ele
teve a coragem de enfrentar também o Governo Militar, denunciando a derrubada
de áreas na Amazônia, que ele considerava o maior crime contra a vida no
planeta. Desde então viu a necessidade de trabalhar a conscientização do
impacto ambiental espalhando seus conhecimentos sobre a complexidade e
dependência que temos da manutenção do equilíbrio natural, além de mostrar que
é possível manter uma relação respeitosa e sustentável com o meio ambiente
alertando também para a contenção da poluição. Um homem que passou 50 anos no
interior da floresta para estudá-la deveria saber muito bem o que dizia e
merecidamente pode ser chamado de “Dom Quixote das Matas”.
Ruschi também manteve
contato com tribos indígenas do Brasil e de seus países vizinhos com as quais
trocou informações importantíssimas sem registro científico sobre fauna, flora
e medicina natural de cura para determinadas doenças tropicais, fato que só
constatou o valor cultural desses povos e fez crescer a admiração e necessidade
de lutar em defesa deles.
Não considerando
suficientes as pesquisas e excursões, em seu país, realizou outras inúmeras por
todos os lugares do mundo, da Patagônia ao Alasca, registrando todas as suas
descobertas e conclusões que só vinham confirmar as suas pressuposições de que
é condição indispensável à preservação de certas áreas de reserva genética de
espécimes, principalmente aquelas já ameaçadas de extinção.
Foram ingratos os
últimos anos da vida de Augusto Ruschi, adoentado, com seqüelas de
esquistossomose e malária, contraídas durante suas pesquisas nas florestas e
resquícios do veneno absorvido de sapos. Procurou a cura na medicina
convencional dos brancos, sem sucesso. E o que é mais arbitrário, nem mesmo a
cura natural indígena à qual se submeteu o ajudou a enfrentar a doença. Ruschi
morreu de cirrose hepática, causada pelo comprometimento de seu fígado e
hepatite B e C. Seu último desejo foi ser enterrado nas matas da Reserva
Biológica de Santa Lúcia, no dia 05 de junho de 1986, não sei se por coincidência
ou em sua homenagem, Dia Mundial do Meio Ambiente. Após seu falecimento,
recebeu da Câmara dos Deputados o título de Patrono da Ecologia no Brasil.
A ideologia de Ruschi
não pode ser taxada de romântica ou utópica, pois é baseada em pesquisas
científicas sérias de objetos de observação concretos, com resultados claros e
conclusões evidentes. Ele não tem dúvidas de que precisamos fazer uso dos bens
da natureza, apenas quer que tenhamos a consciência de que esse uso deve ser
racional. Ruschi nem sequer nos deixou o trabalho de pensarmos em como fazer
isso uma vez que não poupou esforços para registrar tudo de todas as formas
possíveis. Não é à toa que realizou 450 trabalhos e publicou 22 livros. Há
ainda quem afirme que ainda falta muito para se resgatar de sua obra (escrita e
concreta) que o coloca entre um dos mil grandes homens que construíram o saber
e as idéias do século XX.
Se um homem como
Augusto Ruschi, visionário do futuro, não tivesse existido não há dúvida de que
o processo de destruição do planeta já estivesse em estágio mais avançado. Os
amigos como Assis Chateaubriand servem de interlocutores dessa história
fabulosa, que deve ser perpetuada e gerar frutos de mudança na relação do homem
com seu meio ambiente através da educação ecológica infantil.
Augusto Ruschi
conseguiu nos tocar despertando a consciência ecológica, nos advertiu sobre as
conseqüências dos maus-tratos que dispensamos ao meio ambiente, nosso planeta,
nossa casa. Nossas florestas, há tempos, estão sendo desmatadas e velozmente se
transformando em
cemitérios. Engana-se quem pensa que o único líquido
derramado foi o da seiva das árvores. O homem regido pelo egocentrismo e
ambição, alimentado pela ignorância está contribuindo de forma absurda para a
marcha para a extinção da vida no planeta terra, gerando um consumismo
desenfreado e insensato.
A poluição das águas,
as queimadas, o desmatamento, o tráfico de animais desequilibra todo o
ecossistema. Será que não está claro que o ser humano também faz parte dessa
grande teia, que mais cedo ou mais tarde “pagaremos o pato”. A justiça agirá
cegamente. Seremos abatidos pelas forças naturais: terremotos, enchentes,
furacões, maremotos. Para a natureza todos somos culpados. Se todos tivéssemos
consciência ecológica, educação ambiental e reconhecimento da importância do
desenvolvimento sustentável essa e outras histórias poderiam ser diferentes.
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