A FAMÍLIA CEARENSE SOB O SIGNO DAS SECAS
DOMICÍLIO, TRABALHO E MIGRAÇÃO
José
Weyne de Freitas Sousa
A
hipótese principal dessa pesquisa é a de que de 1877 a 1915 a família cearense
esteve sob o signo das secas. Por isso, ela objetiva compreender as relações
familiares no Ceará nesse período, a partir do estudo do impacto social,
político, econômico e cultural das secas na sociedade. Procura-se baseado na
relação família/seca, analisar os seus diferentes significados através do
escrutínio de diversas fontes como: relatórios de presidente de província e
estado, periódicos da época, censos populacionais e, principalmente, da
documentação das Comissões de Socorros Públicos produzida durante as estiagens.
Essas
fontes possibilitam entender a atuação dos governos estaduais e provinciais em
relação às famílias desvalidas, o posicionamento público das elites diante do
flagelo, as conseqüências demográficas da migração e a reorganização dos
domicílios nas cidades que eram pólos de atração dos sertanejos. A interpretação
desse material terá como parâmetro teórico-metodológico os estudo sobre
família, migração, população e trabalho.
O
Ceará no século XIX era uma província pertencente ao que se convencionou chamar
posteriormente de Nordeste. Essa região foi assolada desde o período colonial
por diversas secas. Contudo, a partir de 1877, a seca - fenômeno climático -
ganhou um contorno social e político ao atingir as relações familiares, que até
meados do século XIX eram baseadas na honra e na violência. Com isso, a família
foi submetida a mudanças, como o desenvolvimento de uma prática migratória, a
emergência da chefia feminina do domicílio, a implementação de uma política
assistencialista, a criação das frentes de trabalho e a reconstrução de novos
domicílios a partir dos abarracamentos. Intenta-se, portanto, avaliar neste
trabalho o processo de transformações ocorridas na família cearense
2
após
as secas e no interregno de tempo entre elas. Por esse motivo, abarca-se nessa
pesquisa quatro secas: a de 1877-79 (conhecida como a grande seca), a de
1888-89, 1900 e 1915. Relatos da época, como os do memorialista Rodolpho
Theóphilo, contam que quando a seca se avizinhava o pânico dominava os
sertanejos e a noite “muitos pobres se recolhiam á casa e amedrontados com suas
famílias falavam em migrar"1, desencadeando o processo migratório das
famílias ao longo das secas que levou a construção da noção de abalo da moral
familiar, a partir do distanciamento do conceito de família patriarcal2 que
balizava as relações domiciliares.
A
partir desse parâmetro, esse projeto recua ao estudo da família no século XIX,
momento em que ela era a base da organização social, procurando traçar o perfil
da família retirante, ao longo das quatro secas que assolaram a província no
período. Objetiva-se ainda, perceber de que modo a migração para as cidades
litorâneas e para fora do Ceará - região Sudeste3 - afetou a estrutura da
família no seu aspecto demográfico, sentimental e da economia doméstica.
Procura-se, assim, observá-la na sua dinâmica, evitando naturalizá-la,
escrutinando a sua organização a partir da sua relação com o "contexto
sociocultural"3, para perceber a sociedade cearense e suas transformações
no século XIX e início do XX.
O
diálogo com as fontes mostra que essas transformações podem ser notadas a
partir de uma reorganização do domicílio, da efetivação de uma política que via
o trabalhador, a partir de uma concepção liberal de trabalho, como uma mão de
obra fácil e barata, e a migração que validava uma prática assistencialista, dominada
pelas elites locais que se beneficiavam com o envio de recursos econômicos aos
desvalidos. Assim, da
11THEÓPHILO, Rodolpho. História das Secas no
Ceará(1877-1879). Rio de Janeiro, Imprensa Inglesa, 1922, p.80, 81.
22FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação
da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro:
Record, 1995.
33A migração para a região Sudeste não será abordada
neste trabalho em profundidade. Contudo, pretendo analisar algumas fontes para
saber o desenlace que teve a família migrante em São Paulo, pois há documentos
no Arquivo do Estado que possibilitam uma investigação mais aprofundada desse
tema. Porém, a partir desse trabalho, acredito que poderei compreender melhor a
migração da família cearense no seu próprio local e as motivações que a levaram
migrar para essa região, sobretudo para São Paulo. 3
interface
entre domicílio, trabalho e migração, procurar-se-á compreender o conjunto das
relações familiares na sociedade cearense, bem como os seus parâmetros
norteadores.
4 BPGMP - Setor de microfilmagem, Jornal Cearense,
03/07/1880, p.2.
5VIERA JR, Antonio Otaviano. O Cotidiano do desvio:
defloramentos no Ceará Colonial. Dissertação de mestrado em história
social. São Paulo, PUC-SP, 1997.
6SOUZA, Josinete Lopes de. Da Infância Desvalida à
Infância Delinqüente. Dissertação de Mestrado, PUC/SP,2000.
7SILVA, Régia Agostinho da. Entre Mulheres, História
e Literatura: um estudo do imaginário em Emília de Freitas e Francisca Clotilde.
Dissertação de Mestrado, UFC/Ce, 2002.
8VIEIRA JR., Antonio Otaviano. A.família na seara dos
sentidos: domicílio e violência no Ceará (1750-1850). Tese de doutorado.
São Paulo , 2002, p.134-263. A opção entre domicílio e violência feita por este
autor vai ao encontro de um aspecto organizador da sociabilidade cearense na
primeira metade do século XIX, período marcado por sua pesquisa. Contudo, a
partir da seca de 1877, nota-se uma mudança fundamental do viés que perpassava
a família, de modo que se antes a compreensão da família passava
primordialmente pela análise da violência, a partir desta data a seca passa a
ser um elemento indispensável na compreensão dos sentidos da família e da sua
sociabilidade._
As
fontes para essa pesquisa se encontram em três locais: no APEC (Arquivo Público
do Estado do Ceará), há maços de documentos das Comissões de Socorros Púbicos,
ainda inéditos, que registraram informações diversas sobre os retirantes
abarracados. Na BPGMP (Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel) existe
em microfilme a maior parte dos periódicos que circularam no Ceará de 1877 a
1915 e os Relatórios de Presidentes de Província e Estado. No CEDHAL (Centro de
Demografia Histórica para a América Latina), existem dois bancos de dados, um
sobre a população de Fortaleza de 1887 e outro sobre a seca no Ceará de 1888-89.
Essa
pesquisa surgiu em decorrência do estudo da criança órfã, pobre e desvalida em
Fortaleza de 1877 a 1915. O estudo das fontes utilizadas no trabalho de
mestrado, realizado com o apoio do CNPq, permitiu perceber uma relação estreita
entre família e seca, quando esta vinculação se tornou presente nas políticas
de governo e nos discursos dos observadores da época como Rodolpho Theóphilo
que falava em "filhos do norte" e "A mãe pátria o
Ceará...!"4
para se referir a seca usando metáforas familiares.
A
família sob o signo das secas é um trabalho inédito porque a historiografia
sobre esse tema ainda é exígua, a despeito da produção de algumas dissertações
e teses que abordam temas correlatos à família como: os defloramentos no Ceará
colonial5, a marginalização da infância6, as mulheres escritoras7 e a família
sob o signo da violência.8
4
9ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da
Família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. A partir desse autor,
pode-se compreender o uso do termo vadio, utilizado para denominar as crianças
órfãs, que sem família, eram vistas impossibilitadas de desenvolver seu
sentimento de infância.
10BNRJ - Jornal O Vadio, 1899, p.3.
11A Colônia Orfanológica Cristina se localizava em Maranguape
a 45 km da cidade de Fortaleza, num terreno doado ao governo da província pelo
comendador Luís Ribeiro da Cunha em 1880, para a fundação de uma colônia para
os órfãos desvalidos da seca de 1877-79. Esta instituição existiu até 1889,
contudo ao longo desse período ela passou por várias reformas, sendo que uma
delas se deu através da implementação do projeto do presidente Fleury da
criação de oficinas de trabalho como ferreiro, carpinteiro, funileiros
chefiados pelos “pais de família” e no espaço das meninas pelas “mães de
família”.
12APEC - Relatório com que o exm.º sr. Conselheiro André
Augusto de Pádua Fleury passou a administração da província do Ceará ao exmº
sr. senador Pedro Leão Veloso no dia 1º de abril de 1881, p.43.
Assim,
faz-se necessário uma compreensão da família tendo como esteio o fenômeno das
secas, signo de uma região - o Nordeste - historicamente ligado ao século XIX,
quando emergiram as condições para a formulação de uma identidade regional, por
meio da seca que potencializou o conceito de família no Ceará na segunda metade
do século XIX e início do XX.
Pode-se
compreender a importância da família a partir do conceito de criança “vadia”,9 pois
em decorrência disso, constituiu-se um discurso de regeneração da vadiagem, que
atribuiu á família o papel de "ministério familiar"10 na
sua contenção. A criança denominada de vadia era aquela ausente do domicílio,
sem ofício e que praticava atos ilícitos. Para ela o governo do Ceará criou a
Colônia Cristina11, para onde eram enviados os órfãos desvalidos e funcionou o
projeto do presidente da Província André Fleury chamado de as “mães e os pais
de família”, com o objetivo de restabelecer a base familiar perdida pelas
crianças nos anos de seca.12
A
questão central que perpassa essa pesquisa é: que sentido(s) adquiriu a família
cearense, envolta num discurso de perda e de crise, ao longo das secas
sucessivas que assolaram o Ceará? Com base nisso, a hipótese central desse
projeto é a de que a família cearense passou a ter um significado diferente com
a seca de 1877-79, por meio da construção de um discurso regionalista que
utilizava a imagem da família como vítima da estiagem. Com isso, atraía
recursos que financiavam a chamada "indústria da seca", corroborando
um modelo político de atendimento aos retirantes que facilitava o deslocamento
da população, o abandono dos domicílios, a vinda à Fortaleza e a 5
13THEÓPHILO, Rodolpho. A seca de 1915.
Fortaleza-ce, Edições UFC, 1980, p.51.
14GARDNER, George. Viagem ao interior do Brasil
(1836-1841). Trad.: Milton Amado. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, São Paulo;
Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p. 84.
15PINTO, Luis de Aguiar Costa. Lutas de Famílias no
Brasil. 2ª ed., São Paulo: Ed. Nacional, 1980.
aglomeração13
em algumas cidades litorâneas e prósperas como Aracati, Acaraú, Baturité e
Quixadá.
As
secas no ceará afetaram a família e provocaram a desestabilização da
agricultura, o reordenamento do domicílio e o esfacelamento dos sentimentos
familiares. Da conjugação desses fatores emergiu o discurso de crise moral na
família. No entanto, antes de 1877 a noção de crise e de perda de moralidade se
relacionava ao estado de belicosidade do sertão, como notou o viajante George
Gardner, destacando que o europeu era acostumado a viajar com relativa segurança,
sem o uso de pistolas e adagas, de modo que o encontro com homens portando
armas pelos caminhos cearenses dava “idéia muito desfavorável da moral desta
gente."14
Nesse
sentido, a noção de “crise moral” estava relacionada diretamente a falta de
segurança nos caminhos cearenses, devido a existência de uma população armada,
aspecto que evidenciava uma dificuldade inerente ao processo colonizador
português marcado por um déficit do estado imperial, frente aos
potentados rurais e as lutas de família.15 Não obstante, além dos conflitos
entre famílias que envolviam comunidades inteiras e da insegurança que pairava
nos sertões, somava-se a calamidade da seca com a província enfrentando
prolongadas estiagens desde a última ocorrida no ano de 1825, no qual a falta
de água e alimento levou ao perecimento de homens, animais domésticos e
selvagens.16
A
calamidade da seca não era associada pelos viajantes à crise moral da
população, pois ambas tinham raízes diferentes: uma o porte de armas e a outra
a falta de chuvas. Um outro viajante chamado Daniel Kidder, que passou pelo
Ceará no mesmo período de Gardner, primeira metade do século XIX, titubeou ante
a dificuldade em dizer "qual a maior calamidade dessa região, se as
inundações ou a seca.", pois as chuvas
6
16GARDNER, George. op. cit. , p. 82.
17KIDDER, Daniel P. Reminiscências de Viagem e
Permanências nas Províncias do Norte do Brasil. Trad.: Moacir N.
Vasconcelos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980, p.158.
18NEVES, Frederico de Castro. A Multidão e a História:
saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará;
Fortaleza, CE: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000, p.25. Sobre a noção de
crise civilzatória, atribuída à seca, pode-se sopesar esse impacto,
considerando-se o aspecto de que a seca reinstituiu a noção de crise,
relacionada na primeira metade do século XIX a violência no campo e a partir da
segunda metade ao esfacelamento das relações familiares e domésticas.
19APEC - Fala com que o exmo Sr. Dezembargador Caetano
Estellita Cavalcante Pessoa Presidente da Província do Ceará abriu a 2ª Sessão
da 23ª Legislatura da Respectiva Assembléia no dia 2 de julho de 1877, p.36.
20PENNA, Maura. O que faz ser nordestino: identidades
sociais, interesses e o “escândalo” Erundina. São Paulo: Cortez, 1992.
21BNRJ – Divisões de Periódico. Jornal "O
Vadio", Fortaleza, 24 de julho de 1899, p.4.
7
ressalta-se
a moral da família, pois esta é compreendida mais como um sistema moral do que
como uma instituição._
23MORAIS, Viviane Lima de. As Razões e Destinos da
Migração: trabalhadores e emigrantes cearenses pelo Brasil no final do século
XIX. Dissertação de Mestrado, PUC/SP, 2003.
24 BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo. Migrantes no Brasil
da segunda metade do século XIX. In: ANAIS do XII Encontro da Associação
Brasileira de Estudos Populacionais - ABEP, 2000. Caxambu/MG, 23 a 27 de
outubro de 2000.
25TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. A demografia
numa perspectiva histórica: a aprodução da ABEP 1978/1998. In: SAMARA, Eni de
Mesquita (org.). Historiografia Brasileira em Debate: olhares, recortes e
tendências. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002, p. 13. Minha idéia de
estudar as migrações internas se restringe, basicamente, a especificidade dos
movimentos populacionais no interior do Ceará.
26APEC - Arrolamentos da Freguesia de São José da Cidade
de Fortaleza. Empreendido pelo chefe de Polícia da Província Dr. Araújo Torreão
em 1887. Fundo: Secretaria de Polícia. Ala: Estante: Livro(s) nos 382, 383,
384, 385, 444.
isso,
o estudo da seca no Ceará se ressente de um aprofundamento em torno da questão
das transformações na família e na sua experiência migratória a partir da seca
de 1877-79, que atribuiu ao cearense um aspecto nômade denominada na
historiografia dos memorialistas de cearencismo.23
Assim,
a migração tem sido aspecto componente da sociedade brasileira, porém as
migrações internas continuam pouco exploradas pela historiografia nacional.24
Embora vários estudiosos tenham se manifestado a favor de maiores investimentos
em pesquisas sobre a imigração interna em épocas anteriores ao século XX, tais
estudos "não tem sido feitos."25 Nesse sentido, a seca se constituiu
como parte da história do Ceará, deixando de ser apenas elemento econômico e
tornando-se componente fundamental de uma mecânica discursiva, que deu vazão a
construção de uma noção de família marcada pela idéia de perda e de crise.
Dessa
forma, a seca e a migração desequilibraram o ordenamento da família, pois em
Fortaleza se formou um grande contingente de viúvas e órfãs que permaneceram na
periferia da capital cearense sob a prerrogativa de “inválidos”, ou seja, as
crianças e as mulheres sem a presença do marido - chefe de família - não seriam
capazes de promover sua própria sobrevivência e, com isso, eram excluídos da
ordem de retorno ao sertão, levando a capital do Ceará em 1887 a ter 34% dos
domicílios chefiados por mulheres.26
Cada
seca que atingiu a região contribuiu para a formação dos contingentes de viúvas
e órfãs que permaneceram nas cidades onde havia socorros públicos. Em novembro
8
27BPGMP – Setor de Microfilmagem Relatório com que o
excelentíssimo Sr. Conselheiro João José Ferreira de Aguiar, passou a a dr.
Paulino Nogueira Borges da Fonseca, 3º vice-presidente da Província em 22 de
fev. de 1878.
28Sobre isso foi desenvolvido no CEDHAL - Centro de
Demografia Histórica na América Latina, um projeto coordenado por Eni de
Mesquita Samara sobre as Mulheres Chefes de Família no Brasil no século XIX,
sendo que uma das localidades pesquisadas foi a cidade de Fortaleza, com base
no estudo dos Arrolamento de 1877.
29Rodolpho Theóphilo. Varíola e Vacinação no Ceará.
Ed. fac-similar, Fortaleza, p.106-107.
30Sobre isso vide: FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Os
homens livres na ordem escravocrata. São Paulo, Ática, 1974. Esta autora ao
abordar a figura do homem livre no Brasil num momento em que vigorava a
escravidão enquanto regime sócio-econômico, percebe que a sociabilidade do
homem livre estava relacionada à formas violentas de resolução de problemas que
tinham como nascedouro códigos de honra e de coragem.
de
1887 era crescente a migração do centro para o litoral, de forma que nos
arrabaldes de Fortaleza se formou uma população migrante em torno de 43.000 mil
pessoas. Em Aracaty havia cerca de 30.000 mil desvalidos e grandes aglomerações
se formavam em Baturité, Maranguape, Granja, Acaraú e vila de Pacatuba, de modo
que essas cidades juntas atraíram cerca de 110.000 mil retirantes.27 Desse
modo, a formação de mulheres chefes de família28 não seria restrita a capital
cearense, mas teria atingido toda a província, por meio da migração que a cada
seca, levou a formação de uma população vivendo precariamente em habitações
rústicas29 e miseráveis.
Em
síntese, o que era visto como depreciação moral antes de 1877- a violência30-
consistia na base de sustentação da sociedade cearense que sofreu as
conseqüências da desorganização de um modelo de família baseado no primado da
honra, para um outro estribado na sujeição à seca e a migração. Essa mudança de
parâmetro foi carreada pela reestruturação domiciliar ocorrida nas cidades pólo
de atração dos retirantes, pela organização das frentes de trabalho utilizadas
nas obras públicas e pela efetivação de uma prática migratória. A conjugação
desses elementos deu dinamicidade ao conceito de “família” ao longo da segunda
metade do século XIX e início do XX, tornando esse estudo importante para o
entendimento das relações familiares, da sociedade cearense e do próprio
Nordeste.
O Quinze
Primeiro Plano - Vicente e Conceição
O primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz é O Quinze. O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.
Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem.
Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a trata-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão.
As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.
Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
Segundo Plano - Chico Bento e sua família
Sem dúvida a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha.
No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai.
Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."
Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
O mais famoso livro de Rachel de Queiroz é mediano com alguns bons momentos.
O primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz é O Quinze. O título se refere a grande seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. O romance se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora.
Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem.
Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a trata-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão.
As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento.
Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
Segundo Plano - Chico Bento e sua família
Sem dúvida a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha.
No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai.
Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."
Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
O mais famoso livro de Rachel de Queiroz é mediano com alguns bons momentos.
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Euclides da Cunha, Os Sertões e Canudos
Ana Cristina Venancio da Silva, Júlia
Schwarcz,
Maíra Landulfo, Maria Cecília Winter, Tila Corazza T. Pinto & Ynaê Lopes dos Santos Segundo Ano - História/USP e-mail - download arquivo |
O MOMENTO
Com a Revolução Industrial iniciada na
Europa no século XIII, toda a civilização entrava em uma nova fase
caracterizada pela utilização do aço, do petróleo e da eletricidade. O
capitalismo se estrutura em moldes modernos com o surgimento de grandes
complexos industriais. Ao mesmo tempo o avanço científico leva a novas
descobertas nos campos da Física e da Química.
A chamada 2ª Revolução Industrial cria uma
demanda por matéria-prima e mercado consumidor ; é o imperialismo em ação. As
influências das potências européias sobre os países de baixa renda se
fortificam neste novo quadro.
A crise de 1873, que provoca a falência de
investidores nas metrópoles européias devido ao excesso de produção e/ou à
escassez de mercado consumidor, aumenta o interesse de tais potências por
países que já possuem alguma dependência econômica ou política (por exemplo a
Austrália, ex-colônia da Inglaterra e os países da América Latina em geral).
Essa forma de dependência o historiador Nicolau Sevcenko chamou de indirect
rule:
|
“...as formas das relações que se
estabeleceram entre as nações periféricas ao desenvolvimento industrial e os
centros econômicos europeus, modeladas pela indirect rule do novo imperialismo,
foram de natureza a dissolver-lhe as peculiaridades arcaicas e harmonizá-las
com um padrão de homogeneidade internacional sintonizado com os modelos das
matrizes do velho mundo. ”(SEVCENKO, 1981: 32)
Foi através desta “regra indireta” que os
centros capitalistas europeus estabeleceram seus padrões de vida como padrões
universais, atingindo principalmente suas áreas de influência da periferia do
sistema. Os avanços tecnológicos e científicos também dão margem à posturas
ideológicas como o Positivismo de Auguste Comte e o Socialismo Científico de
Marx e Engels, que define o modo de produção da vida material como agente
condicionador do processo de vida social, político e intelectual em geral. O
Socialismo Científico era assim chamado porque não procurava construir
abstratamente uma sociedade ideal mas, baseando-se na análise das realidades
econômicas, da evolução histórica e do capitalismo, formula leis e princípios
determinantes da História em direção a uma sociedade sem classes e igualitária.
O Evolucionismo de Charles Darwin também é incorporado neste quadro; em seu
livro A Origem das Espécies de 1859, Darwin expõe seus estudos sobre a
evolução das espécies pelo processo de seleção natural, negando portanto a
origem divina defendida pelo Cristianismo.
Com a expansão do capitalismo, difundiram-se
também estas idéias nascidas na Europa, o abalo desta influência sobre as
sociedades tradicionais foi gritante, especialmente em países da periferia do
sistema, como a Argélia com o Levante Argelino de 1871, o Egito com o Movimento
Nacional Egípcio de 1879-1882, e o Brasil com a Guerra do Paraguai de 1864-1870
que abalou os ideais conservadores.
O Brasil do final do século XIX foi marcado
por inúmeras agitações sociais, desde movimentos separatistas como a
Confederação do Equador, agitações abolicionistas, a própria abolição e até a
República. O maior centro populacional do país, o Rio de Janeiro, também era
considerado um grande centro comercial por intermediar os recursos da economia
cafeeira, a capital inicia o século XX em uma situação realmente excepcional. A
cidade era um espaço de confluência cultural e econômica que se comunicava com
todo o país e acumulava recursos no comércio, nas finanças e já também nas
aplicações industriais.
Ao mesmo tempo, com o processo de abolição e
com a vinda de imigrantes, a cidade passava por uma superlotação, que demandava
capital móvel para fazer o pagamento dos trabalhadores, agora livres. O então
ministro da Fazenda, Rui Barbosa, dá início à um processo de incentivo às
atividades nas bolsa de valores, foi o chamado Encilhamento. Este processo
causou uma confusão maior ainda na cidade, pois fortunas mudavam de mãos,
dizia-se que “o rico de hoje era o tintureiro de ontem”, não se sabia mais quem
possuía poder político ou econômico. Adiciona-se a essa confusão, a enorme e
sempre crescente população da cidade que passou a se instalar em casarões
formando cortiços e verdadeiros “ântros de promiscuidade”.
Sob a influência das ideologias européias, o
Estado brasileiro inicia o processo de Regeneração do Rio de Janeiro, que tem
como objetivo “higienizar” a cidade, mandando a população pobre para a
periferia (dando origem às favelas), e procurando construir uma imagem moderna
para a capital do país. A Regeneração foi financiada por investidores
estrangeiros que se aproveitavam da indirec rule, característica dominante no
país. Além disso a modernização da cidade facilitaria o espaço de fluxo de
matéria-prima aos portos brasileiros, e assim, facilitaria a ação do imperialismo.
Na República, “confrontavam-se” Liberais, que
se representavam basicamente pela elite paulista influenciada pelo
cosmopolitismo progressista internacional e os Conservadores representados
pela vanguarda republicana, positivista e militar, influenciada por
estigmas de intolerância e isolamento. Na prática, os ideais destes dois grupos
são indiferenciáveis: “nada mais conservador do que um liberal no poder”, a
República dos Conselheiros se dava então, com o revezamento da gestão das duas
classes. O texto de Machado de Assis, Esaú e Jacó ilustra bem a
“política de acordos” característica marcante no Brasil de então. É neste
complexo quadro que se dá a formação de Euclides da Cunha, ele, como muitos de
seus contemporâneos sofreu as influências desta sociedade caótica e das
ideologias vindas de além mar.
O CONTEXTO
Para que consigamos compreender a obra de
Euclides da Cunha de uma forma mais completa, é estritamente necessário que
façamos um breve parênteses, e olhemos quais eram essas “tão famosas” idéias
cientificistas, positivistas e deterministas que influenciaram o autor, ou
seja: vamos buscar as fontes nas quais Euclides da Cunha “bebeu”. Tentar
enquadrá-lo no contexto histórico-intelectual em que viveu.
Antes de mais nada, é importante relembrarmos
que o continente Americano, mais conhecido como Novo Mundo, sempre povoou o
imaginário europeu. Exemplos clássicos, são o mito do “bom Selvagem” de
Rousseau (uma espécie de herança do ideais da Revolução Francesa), onde o autor
defendia a maior perfectibilidade do homem americano ( nativo), por ter se
conservado no seu estado natural. Outro exemplo são as idéias de Buffon e De
Pauw, que contrariamente a Rousseau, viam os americanos como degradados,
imaturos e decaídos.(SCHWARCZ, 1993:45)
Mas tal discussão não se finda no séc.
XVIII. No século seguinte ela ganha ainda mais amplitude, entrando no
campo de ciência - que na época ganha o status de ser a única e
verdadeira forma de se ver e pensar o mundo. E dentro desse contexto cientificistas,
George Cuvier introduz o termo raça - mostrando a existência da herança de
caracteres físicos permanentes entre os vários grupos humanos (SCHWARCZ,
1993:47) - que, consequentemente irá se confrontar com os ideais igualitários
da Revolução Francesa, principalmente porque, a partir de então, o termo raça,
estará vinculado a outro: cidadania.
Ao ser legitimada, algumas das
principais questões que a ciência irá estudar são a origem e diversidade
da humanidade - tendo sempre em vista uma resposta absoluta e verdadeira. E o
principal debate sobre essa questão se dará entre os monogenistas e
poligenistas. Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma
origem e que as diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor
proximidade do Éden (teoria difundida pela Igreja Cristã), os poligenistas, que
baseados em recentes estudos de cunho biológico, acreditavam que haviam
diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos
humanos(SCHWARCZ, 1993: 47). Conseqüentes a esse debate, surgiram no séc. XIX
disciplinas e sociedades não só divergentes como rivais. Exemplos claros será o
surgimento de antropologia criminal, que considerava que a
criminalidade era algo genético, a frenologia e a antropometria,
que calculavam a capacidade humana de acordo com o tamanho do cérebro de
indivíduo estudado dos diferentes grupos humanos, a craniologia, estudo
do crânio, dentre outros.
Entretanto o debate tomará novo fôlego com a
publicação do livro A Origem das Espécies de Charles Darwin em 1859. A
partir de então o termo raça ultrapassará o campo da biologia, se estendendo às
discussões culturais e políticas, além de imprimir o conceito de evolução às
duas visões descritas acima, que muitas vezes irão desvirtuar ou “adaptar” as
teorias darwinistas no que lhes fosse mais conveniente.
Os adeptos do poligenismo são os que melhor
realizam essa “adaptação” das teorias de Darwin e acabam tendo seus
ideais mais difundidos em relação ao seus rivais monogenistas (é importante
frisar que nesse mesmo momento os dogmas da Igreja estavam sendo questionados
pelos cientistas). Exemplos disso são a sociologia evolutiva de Spencer e a
história determinista de Buckle e até mesmo o sentimento do “Imperialismo
Europeu” que se instala nesse momento.
A espécie humana passa a ser tratada como
gênero humano e suas diferenças culturais são classificadas como diferenças
entre espécies: o Homem é dividido e hierarquizado por suas diferenças; e
quanto mais longe uma “espécie” se manter da outra melhor para todos. Mas
surge um problema: o que fazer então com os grupos miscigenados? A maior parte
dos estudiosos e cientistas europeus e norte americanos como Broca, Gobineau e
Le Bom, consideravam a miscigenação um erro, uma quebra das leis naturais, uma
subversão do sistema. Segundo Lilia M. Schwarcz: “Os mestiços
exemplificavam, segundo essa última interpretação, a diferença fundamental
entre as raças e personificavam a ‘degeneração’ que poderia advir do cruzamento
de espécies diversas”.(SCHWARCZ, 1993: 56)
Frente a todo esse impacto causado pela
publicação de Charles Darwin, outras disciplinas- ainda vinculadas às duas
visões sobre a origem e diferença do Homem- irão surgir. Dentre elas, algumas
se destacam: a Antropologia cultural ou Etnologia Social que restitui a idéia
de que a humanidade tinha apenas uma origem e sua diferença era proveniente do
processo evolutivo que ela estava fadada a passar e tinha como seus principais
defensores: Morgan, Tylor e Frazer, chamada de escola evolucionista.
Numa perspectiva mais vinculada ao poligenismo,
aparece a escola determinista geográfica de Ratzel e Buckle que afirmavam que o
desenvolvimento ou não de uma nação estava totalmente condicionada pelo meio
físico. Houve também outra escola determinista conhecida como “darwinismo
social” ou “teoria das raças”, que considerava a miscigenação algo negativo, já
que não acreditava que as características adquiridas não eram transmitidas, ou
seja: as raças eram imutáveis. Tal escola acreditava na existência de três
raças bem distantes, o que invalidava a mestiçagem. O mundo dividido
culturalmente era conseqüência da divisão de raças, e havia a raça superior.
Muitos autores acreditavam nesse ideais como: Le Bom que achava que o “gênero”
humano compreendia espécies de diferentes origens. Taine que considerava o
indivíduo resultante direto de seu grupo construtor e que raça e nação são
sinônimos. Renase que acreditava na existência e hierarquização das três raças.
E por fim Gobineau que afirmava que o resultara da mistura era sempre um
dano.(SCHWARCZ, 1993: 56)
Essas premissas da escola determinista,
principalmente a que defendia a existência de uma raça superior, serviram de
base para um movimento que existe até hoje: a Eugenia, que acreditava que só
haveria progresso nas sociedades puras, apenas uma raça estava fadada à
perfectibilidade, a raça ariana e a humanidade estava dividida em espécies: a
miscigenação se torna algo irracional, contra todas as “leis
naturais”. A Europa e os E.U.A. . difundiram essas idéias pelo
mundo, e elas irão influenciar escritores e pensadores de toda parte.
Os europeus acreditavam que compunham um
grupo humano puro, livre de hibridização, muito mais perto da perfectibilidade
e justamente por isso era o responsável pela civilização dos demais grupos -
argumento que justifica e legitima tanto a colonização americana como o
“Imperialismo Europeu”, o fardo do homem branco.
Já os norte americanos, mesmo tendo sido
colônias da Europa, comprovaram seu desenvolvimento, principalmente por terem
evitado a miscigenação entre o branco dominador e o negro escravo. E tudo
o que foi dito acima serve de justificativa para que o debate da mestiçagem se
dê de forma muito menos complexa nesses lugares. No Brasil, como no restante da
América Latina, o mesmo não ocorre, a miscigenação é um fato. E mais do que um
fato, ela vai se tornar um obstáculo, quando estudiosos e até mesmo cientistas
(tanto nacionais como estrangeiros) forem analisar o território brasileiro em
busca de uma identidade nacional. O Brasil se tornara uma espécie de laboratório
vivo, onde cientistas procuraram comprovar na prática o que compuseram, e onde
“ilustrados” brasileiros buscaram desesperadamente uma unidade, uma
homogeneidade para definir o povo brasileiro, tendo como principal fonte de
estudo , a ciência do séc. XIX descrita acima.
A VIDA
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em
Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866. Foi criado pelos
parentes, pois sua mãe morreu quando ele tinha três anos.
Após concluído o ginásio, ingressou na Escola
Politécnica, para cursar engenharia. Devido às dificuldades financeiras,
Euclides teve que largar o curso, e transferiu-se para Escola Militar da Praia
Vermelha. Lá, reencontrou Benjamim Constant, seu antigo professor no Colégio
Aquino, e de quem absorveria idéias positivista e republicanas.
Já identificado com os princípios
republicanos, Euclides da Cunha cometeu um ato de insubmissão contra a
Monarquia, quando cadete na fortaleza da Praia Vermelha: durante a visita do
ministro da Guerra do Império, o conselheiro Tomás Coelho, atirou seu sabre aos
pés deste, num gesto de contestação ao regime. Foi expulso do Exército por
indisciplina.
Mudou-se para São Paulo e começou a escrever
no jornal “A Província de São Paulo” (futuro “Estado de São Paulo”,
após a proclamação da República). Com a vitória republicana, voltou
ao Exército e concluiu a Escola Militar, formando-se em Engenharia
com bacharelado em Matemática e Ciências Físicas e Naturais.
Em 1894, foi praticamente exilado (dão-lhe a
incumbência de dirigir a construção de um quartel na cidade mineira de
Campanha) por assumir posição antiflorianista. De lá, voltou para São Paulo
para escrever no “Estado de São Paulo”.
Em 1897, Euclides foi mandado para Canudos
pelo jornal como correspondente para reportar os eventos que lá ocorriam.
Enviou uma série de artigos que, futuramente, dariam origem ao “Os Sertões”. O
livro foi concluído em São José do Rio Pardo, onde morou até 1901.
“Os Sertões” alcançam repercussão
nacional, permitindo a Euclides ingressar no Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e na Academia Brasileira de Letras. Nada disso fez com que Euclides
tivesse sua vida mais facilitada. Continuou com a Engenharia, com momentos de
desemprego, enfrentando dificuldades financeiras.
Em 1909, ingressa no Colégio PedroII, no Rio
de Janeiro, para ministrar a cadeira de Lógica. No mesmo ano é assassinado pelo
amante de sua mulher, Ana de Assis, durante uma troca de tiros. Morre com 43
anos de idade. Ensaísta e narrador extraordinário de Os sertões, Euclides
da Cunha é o primeiro escritor a encarnar o gigantismo da terra brasileira,
fazendo de sua obra um dos principais alicerces da consciência nacional.
A OBRA
1) CONTRASTES E CONFRONTOS, 1907. Coletânea
de artigos saídos na imprensa
2) PERU X BOLÍVIA,1907. Estudo técnico sobre o litígio fronteiriço entre esses dois países andinos. Através de material técnico e histórico, Euclides mostra os erros que terminaram por orientar a delimitação territorial entre Peru e Bolívia.
3) À MARGEM DA HISTÓRIA,1909. Obra publicada após a morte de Euclides também reunindo artigos saídos na imprensa.
4) CADERNETA DE CAMPO,1975
CANUDOS, DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO, 1939.
Ambos os livros foram organizados valendo-se de textos que Euclides publicou no “Estado de São Paulo” entre Agosto e Setembro de 1897. Mostra como, ao produzir “Os Sertões”, Euclides retrabalhou seus escritos anteriores.
2) PERU X BOLÍVIA,1907. Estudo técnico sobre o litígio fronteiriço entre esses dois países andinos. Através de material técnico e histórico, Euclides mostra os erros que terminaram por orientar a delimitação territorial entre Peru e Bolívia.
3) À MARGEM DA HISTÓRIA,1909. Obra publicada após a morte de Euclides também reunindo artigos saídos na imprensa.
4) CADERNETA DE CAMPO,1975
CANUDOS, DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO, 1939.
Ambos os livros foram organizados valendo-se de textos que Euclides publicou no “Estado de São Paulo” entre Agosto e Setembro de 1897. Mostra como, ao produzir “Os Sertões”, Euclides retrabalhou seus escritos anteriores.
A CIÊNCIA E O PAÍS
A historiografia das ciências no Brasil é
caracterizada pelo fato de considerar a criação das universidades na década de
30 do século XX como sendo a introdução da ciência no Brasil. A prática
científica nos períodos anteriores a essa data é geralmente considerada como
resultado da influência européia, não passando de mera repetição e copias das
teorias vigentes na Europa.
Não acreditamos que todo o trabalho
intelectual brasileiro desde meados do século XIX possa ser considerado simples
imitação, já que isso significaria "cair em certo reducionismo,
deixando de lado a atuação de intelectuais reconhecidos na época, e mesmo
desconhecer a importância de um momento em que a correlação entre a produção
cientifica e o movimento social aparece de forma bastante evidenciada."(SCHWARCZ,
1993: 17)
No caso das teorias raciais parece ainda mais
improvável a hipótese delas terem sido "importadas" e reproduzidas
aleatoriamente no Brasil. Elas podiam trazer uma sensação de proximidade com a
Europa e uma confiança no progresso e na civilização, "pareciam
justificar cientificamente organizações e hierarquias tradicionais que pela primeira
vez começavam a ser colocadas publicamente em questão"(SCHWARCZ, 1993:
18), mas também traziam um enorme mal estar. Como encarar a interpretação
pessimista da mestiçagem presente nessas teorias num país já tão miscigenado?
Aceitar, copiar e reproduzir essas teorias no
Brasil iria inviabilizar um projeto de construção nacional que mal tinha
começado. Os homens de ciência brasileiros tiveram que achar uma resposta
original, adaptando essas teorias utilizando o que combinava e descartando o
que era problemático para a construção de um argumento racial no país. Esses
homens são encontrados nos grupos de intelectuais reunidos nos diversos
institutos de pesquisa e "longe de conformarem um grupo homogêneo (...)
estes intelectuais guardavam, porém, certa identidade que os unia: a
representação comum de que os espaço científicos dos quais participavam lhes
davam legitimidade para discutir e apontar os impasses e perspectivas que se
apresentavam para o país"(SCHWARCZ, 1993: 37).
A ciência era para esses homens o único
caminho possível para as transformações e sobrevivência do Brasil. A vertente
cientificista buscava encontrar as leis que organizavam a sociedade brasileira,
que determinavam a formação do gênio, do espírito e do caráter do povo. Segundo
essa mesma vertente, recorrendo à leis e métodos gerais, seria possível
encontrar as especificidades da evolução brasileira e, assim, deduzir seu rumo.
Como apontou Sevcenko essa atitude seria "uma versão desdobrada do lema
lapidar do positivismo: 'Prever para Prover"(SEVCENKO, 1981: 103).
A necessidade de conhecer o Brasil também
estava calcada no medo que muitos dessa geração tinham de que o país fosse
invadido pelas potências expansionistas e viesse a perder autonomia ou parte do
território. O próprio Euclides da Cunha pregava a necessidade da colonização do
interior e a construção de uma rede interna de comunicação viária.
Essa atitude reformista e salvacionista
pretendia criar um saber próprio sobre o Brasil nos seus mais diferentes
aspectos e resultava em duas reações da comunidade científica. A primeira era
acreditar no curso natural dos acontecimentos, sublimando as dificuldades
presentes e transformando a sensação de inferioridade em um mito de
superioridade. A segunda era buscar um conhecimento profundo do país para
descobrir um certa ordem no caos presente.
Acreditamos que Euclides da Cunha esteja no
segundo grupo, não só porque em momento algum aponta o embranquecimento natural
da população, mas, principalmente pelas suas tentativas de determinar um tipo
ético representativo da nacionalidade ou, pelo menos, simbólico dela.
Euclides da Cunha e a comunidade
científica
Na obra de Euclides da Cunha podemos perceber
a influência de várias teorias que estavam em voga na época e, por isso, temos
que entender como ele entrou em contato com elas. O regulamento implantado em
1874 na Escola Militar da Praia Vermelha, onde Euclides da Cunha realizou seus
estudos de engenharia, foi implantado num "ambiente intelectual já
permeável às doutrinas cientificistas, de cunho positivista, evolucionista ou
determinista."(SANTANA: 35)
Por adotar o modelo francês uma das
principais características da Escola Militar era a ênfase dada aos estudos
matemáticos e um currículo que abrangia as ciências básicas para a formação de um
engenheiro. Segundo Walnice Galvão, o estudo na Escola Militar foi muito
importante para o conhecimento presente nos Sertões, "se compararmos as
áreas de conhecimento que lá são mobilizadas com o currículo da Escola quando
ele era aluno, verificamos que ele já estava familiarizado com boa parte delas.
Tinha estudado na Escola química orgânica, mineralogia, geologia, botânica,
arquitetura civil e militar, construção de estradas, desenho topográfico,
ótica, astronomia, geodésia, administração militar, tática e estratégia,
história militar, balística, mecânica racional, tecnologia militar e as
matemáticas.(...) Como matérias de currículo, não teriam sido obrigatoriamente
estudadas a fundo, conforme se percebe no livro, mas é com vistas afinadas para
estes saberes que Euclides avalia Canudos e a guerra."(SANTANA: 43)
Como podemos explicar então o fato de teorias
não necessariamente ligadas com a engenharia estarem presentes na obra de
Euclides da Cunha, já que como afirma Sevcenko, ele se utiliza de "bases
genéricas do comtismo, para fundi-las com a sociologia organicista e a
filosofias biossociais de cunhagem inglesa e alemã"(SEVCENKO, 1981:
149). O contato com as correntes cientificistas não se davam exclusivamente via
sala de aula, mas "incorporadas ao cotidiano dos alunos através de
revista e sessões de sociedades estudantis, onde se poderiam acompanhar os
debates das teorias cientificistas mais modernas, como as de Spencer, Haeckel e
Darwin."(SANTANA: 35)
Depois de formado, Euclides da Cunha continua
em contato com os escritos desses autores e também passa a ler escritos sobre o
Brasil, como as obras de Varnhagem, Morize, Caminhoá, Silvio Romero, Capistrano
de Abreu, Teodoro Sampaio, Derby, Saint-Hilaire, Liais. Em São Paulo, Euclides
da Cunha encontra alguns desses novos autores que foram contratados para
trabalhar nas recém implantadas instituições, das quais são exemplos: a
Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (1886), o Instituto Agronômico de
Campinas (1887), o Instituto Bacteriológico de São Paulo (1892), a Escola
Politécnica de São Paulo (1893) e o Museu Paulista (1894).
Euclides da Cunha era um integrante dessa
comunidade científica e, apesar de só entrar para o IHGB depois de escrever os
Sertões, já era filiado ao IHSP desde 1897 e à Comissão de História e
Estatística de São Paulo desde 1898. Estes eram os espaços que permitiam a
relação entre os filiados e as outras instituições e, principalmente, a difusão
dos trabalhos dos pesquisadores.
O LIVRO
A divisão interna da obra é fruto da influência
sofrida por Euclides do historiador francês Taine, o qual formulou no seu livro
“Histoire de la Littérature Anglaise(1863)”, a concepção naturalista da
história – teoria que defendia que a história é determinada por três
fatores: meio, raça e momento. Tal concepção naturalista foi seguida pelo autor
ao dividir “Os Sertões” em três partes correspondentes aos fatores de
Taine: “A Terra”, “O Homem” e “A Luta” . É também do
historiador francês a citação que consta na nota preliminar do livro a qual traz
a idéia que o “narrador sincero” deveria ser capaz de se sentir um bárbaro
entre os bárbaros, com um antigo entre os antigos.
No plano interpretativo, o professor Alfredo
Bosi propõe a divisão da obra em dois grandes planos: primeiro o plano
histórico, que corresponde a parte final do livro – “ A Luta” – ,
sendo que este é seguido pelo plano interpretativo que, por sua vez,
corresponde às duas divisões iniciais do mesmo (“A Terra” e “O Homem”). O
momento histórico se reflete na obra tanto na estrutura determinista (que
defende que os estudos devem partir dos aspectos geológicos, passando para
detecção das variações climáticas para finalmente chegar ao último elo da
cadeia que é o homem) quanto no raciocínio homólogo entre as ciências, onde
verificamos a transposição de idéias da biologia e geologia para a explicação
dos fenômenos humanos.
Como pudemos observar ao longo do presente
trabalho, Euclides da Cunha era, em poucas palavras, um engenheiro militar,
republicano, positivista que viveu na segunda metade do século XIX em um país
culturalmente preso à França; e é com esse indivíduo que devemos nos dialogar
durante a leitura desta obra. Até agora, nos detemos em fazer uma análise do
momento, do contexto, da vida, da ciência no Brasil, que envolveram o autor e
sua obra, pois acreditamos que esse é o instrumental teórico necessário para
analisar um texto de tão profundo impacto quanto “Os Sertões”. Uma leitura que
eventualmente não atente para estes detalhes pode deixar de observar a
importância desta obra, ou então, cometendo um anacronismo imensurável, taxá-la
de racista.
Passemos agora ao texto e suas
características principais.
A “Nota Preliminar” da obra mostra, de uma
maneira resumida, qual é o instrumental teórico do autor. Quando Euclides
usa termos como “sub-raça sertaneja”, ele admite ser adepto tanto do
determinismo biológico quanto do darwinismo social. A marcha da civilização
avançaria inexoravelmente sobre o sertão “no esmagamento inevitável das
raças fracas pelas raças fortes” (GALVÃO, 1998: 14), porém, a Campanha de
Canudos constituía em um retrocesso, um crime. Este é o primeiro grande
contraste de uma obra cheia deles: os homens desenvolvidos do sul e do litoral
que deveriam civilizar a sub-raça que vivia isolada na “terra ignota” do interior,
leva na verdade a morte para homens, mulheres, velhos e crianças.
O PLANO INTERPRETATIVO
As características de topógrafo, engenheiro e
geógrafo, colocam em destaque a riqueza técnica e a sensibilidade do autor na
descrição das várias paisagens do Brasil. Um exemplo dos conhecimentos técnicos
é quando o mesmo explica a sazonalidade e a previsibilidade das secas do
nordeste. Neste trecho fica demonstrado que o autor não só descreve como
problematiza as questões climáticas porque tem conhecimento de causa.
“Como quer que seja, o penoso regime dos
estados do Norte está em função de agentes desordenados e fugitivos, sem leis
ainda definidas, sujeita às perturbações locais, derivadas da natureza da
terra. Daí as correntes aéreas que o desequilíbram. (...)Um dos motivos da seca
repousa, assim, na disposição topográfica.(GALVÃO, 1998: 43)
O sertão é tão inóspito que até a natureza se
contorce para ali viver. E como a natureza também o homem se modifica e se
adapta a ela.
Euclides denuncia de certa forma o fato desta
área ser muito mal estudada, e, até nessa questão, culpa a natureza por isso. O
sertão e o sertanejo são algo nunca dantes entendidos e estudados e isto é um
dos fatores que fizeram de sua obra tão lida e tão comentada na época.
As comparações entre o sul e o norte mostram
que desde o início da obra Euclides tem como objetivo mostrar como que, através
do determinismo geográfico, se formou uma sub-raça mestiça no sertão. O
sul seria a terra que atraí o homem e o norte a que expulsa, como podemos ver
nos trechos abaixo:
“E por mais inexperto que seja o
observador – ao deixar as perspectivas majestosas, que se desdobram ao Sul,
trocando-as pelos cenários emocionantes daquela natureza torturada, tem a
impressão persistente de calcar fundo recém-sublevado de um mar extinto, tendo
ainda estereotipada naquelas camadas rígidas a agitação das ondas voragens”(GALVÃO,
1998: 29)
“ Ora, estas largas divisões, apenas
esboçadas, mostram já uma essencial entre o Sul e o Norte, absolutamente
distintos pelo regime meteorológico, pela disposição da terra e pela transição
variável entre o sertão e a costa.”(GALVÃO, 1998: 74)
A partir de tais comparações o autor toma
como certeza que a aclimatação dos indivíduos seria prejudicial para o
desenvolvimento dos mesmo. O europeu do que colonizou o Norte teria sido
corrompido pelo clima, já o do sul teria mantido as características superiores
pela mesma razão.
“A aclimatação traduz um evolução
regressiva. O tipo desaparece num esvaecimento contínuo, que se lhe permite a
descendência até à extinção total. Como o inglês nas Barbadas, na Tasmânia ou
na Austrália, o português no Amazonas, se foge ao cruzamento, no fim de poucas
gerações tem alterados os caracteres físicos e morais de uma maneira profunda,
desde a tez, que se acobreia pelos sóis e pela eliminação incompleta do
carbono, ao temperamento, que se debilita despido das qualidades primitivas. A
raça inferior, o selvagem bronco, domina-o; aliado ao meio vence-o, esmaga-o,
anula-o na concorrência formidável ao impaludismo, ao hepatismo, às pirexias
esgotantes, às canículas abrasadoras, e aos alagadiços maleitosos.”(GALVÃO,
1998: 79)
Neste trecho temos em resumo a idéia do
porquê que o autor descreve tão detalhadamente a terra. São as teorias
deterministas, tanto biológicas quanto geográficas, que o norteam. O homem é um
fruto de seu lugar. Para o Euclides que escreve antes de ver pessoalmente o
desmonte criminoso do arraial de Canudos, as leis européias são as máximas
vigentes.
Os tipos brasileiros, como o sertanejo e o
gaúcho, resultaram não só da mestiçagem mas também da interação entre homem e
natureza, homem e sociedade. Continua a operar o paralelo entre as séries,
especialmente entre as mais próximas: as espécies de plantas e de animais devem
a sua anatomia e fisiologia tanto à herança quanto a seculares esforços de
adaptação ao meio e aos outros organismos. A simetria, que se dá por provada no
nível genético e no nível mesológico, estendendo-se ao social. E os caracteres
raciais ora confirmam-se ora se alteram no curso histórico da luta pela vida.
A descrição geográfica da região onde se
instala o “Belo Monte” de Conselheiro, é detalhada, o que dá à obra uma
característica própria do autor. O clima, o solo, os ventos, as chuvas, a
temperatura, os animais e o homem, tudo é descrito não só apenas por um
observador atento mas por um cientista natural.
O sertão é a terra esquecida pela metrópole
portuguesa e posteriormente pela monarquia brasileira. Nela se formou isolada
geograficamente um povo mestiço que se diferenciou dos mestiços litorâneos,
para melhor, em razão do próprio isolamento no qual se mantiveram. Não
podemos esquecer que “o sertanejo é antes de tudo um forte” porque não é como
“os mestiços neurastênicos do litoral”. Eis, então, outro grande contraste
que permeia toda a obra de Euclides da Cunha. Mas antes de mais nada, o autor
reforça que toda “a mestiçagem extremada é um retrocesso”, o que vai de
encontro com as teorias vigentes. Nessa época, dizer que o homem branco não
superior à qualquer tipo de mestiçagem é uma ofensa a uma lei que até então
era inquestionável.
“Porque ali ficaram, inteiramente
divorciados do resto do Brasil e do mundo, murados a leste pela Serra Geral,
tolhidos no ocidente pelos amplos campos gerais, que se desatam para o Piauí
e que ainda hoje o sertanejo acredita sem fins. O meio atraía-o e
guardava-os.”(GALVÃO, 1998: 190)
"O abandono em que jazeram teve
função benéfica. Libertou-os da adaptação penosíssima a um estádio social
superior, e simultaneamente, evitou que descambassem para as aberrações e
vícios dos meios adiantados”(GALVÃO, 1998: 103)
|
Eis porque o sertanejo leva vantagem sobre o
mestiço do litoral. O primeiro permaneceu isolado enquanto o segundo teve que
forçosamente se submeter às regras dos indivíduos superiores.
Para ilustrar a idéia de que o sertanejo é um
forte, Euclides da Cunha cria a metáfora da rocha viva. Como vimos na época que
escreveu os Sertões Euclides estava em São José para reconstruir um ponte que
havia tombado, ele acaba encontrando uma base muito firme para essa
reconstrução: o granito. A partir daí desenvolve uma correlação entre a pedra e
o homem do sertão.
Respondendo à criticas de que essa metáfora
entrava em contradição com sua afirmação da inexistência da unidade racial
brasileira o próprio Euclides explica-a numa segunda edição do livro.
"Rocha viva...A locução sugere-me um
símile eloqüente.
De fato, a nossa formação como a do
granito surge de três elementos principais . Entretanto quem ascende por
um cerro granítico encontra os mais diversos elementos: aqui a argila pura do
feldspato decomposto, variamente colorida; além da mica fracionada, rebrilhando
escassamente sobre o chão; adiante friável, do quartzo triturado; mais longe o
bloco moutnné, de aparência errática; de e por toda a banda a mistura
desses mesmos elementos com a adição de outros, adventicios, formando a
incaracterístico solo arável, altamente complexo. Ao fundo, porém, removida a
camada superficial, está o núcleo compacto e rijo da pedra. Os elementos esparsos,
em cima, nas mais diversas misturas, porque o solo exposto guarda até os
materiais estranhos trazidos pelo vento, ali estão, embaixo, fixos numa dosagem
segura, e resistentes, e íntegros.
Assim, à medida que aprofunda, o observador
se aproxima da matriz de todo definida no local. Ora o nosso caso é idêntico -
desde que sigamos das cidades do litoral para os vilarejos do sertão.
A principio uma dispersão estonteadora de
atributos, que vão de todas as nuances da cor a todos os aspectos do caráter:
Não há distinguir-se o brasileiro intrincado misto de brancos, negros e mulatos
de todos os sangues e de todos os matizes. Estamos à superfície da nossa gens,
ou melhor, seguindo à letra a comparação de há pouco, calcamos o húmos
indefinido da nossa raça. Mas estranhando-nos na terra vemos os primeiros
grupos fixos - o caipira no sul, e o tabaréu, ao norte - onde já se
tornam raros o branco, o negro e o índio puros. A mestiçagem generalizada
produz, entretanto, ainda todas as variedades das dosagens díspares dos cruzamentos.
Mas a medida que prosseguimos estas últimas se atenuam.
Vai-se notando maior uniformidade nos
caracteres físicos e morais. Por fim a rocha viva - o sertanejo"(CUNHA,
1939: 580)
Euclides da Cunha não encontra o tipo
brasileiro, que segundo ele próprio talvez nem exista, mas estabelece um
símbolo da nacionalidade, símbolo que podia se prestar "a operar
como um eixo sólido que centrasse, dirigisse e organizasse as reflexões
desnorteadas sobre a realidade nacional."(SEVCENKO, 1981: 106)
Igualmente importantes são as descrições do tipo de vida e dos costumes sertanejos. Euclides mostra, à seu modo, como esses homens simples vivem, as suas relações com os animais e coma a natureza local, bem como o seu fanatismo religioso, seu respeito á morte, sua “psique” de uma forma geral.
Igualmente importantes são as descrições do tipo de vida e dos costumes sertanejos. Euclides mostra, à seu modo, como esses homens simples vivem, as suas relações com os animais e coma a natureza local, bem como o seu fanatismo religioso, seu respeito á morte, sua “psique” de uma forma geral.
“O homem dos sertões – pelo que
esboçamos – mais do que qualquer outro está em função imediata da terra. É
uma variável dependente no jogar dos elementos. Da consciência da fraqueza,
para os debelar, resulta, mais forte, este apelar constante para o
maravilhoso, esta condição inferior de pupilo estúpido da divindade. Em
paragens mais benéficas a necessidade de um tutela sobrenatural não seria tão
imperiosa”(GALVÃO, 1998: 126)
Antônio Conselheiro é mostrado como um
indivíduo marcado por uma biografia dotada de elementos
sobrenaturais.
|
Carismático e penitente, o profeta conseguiu
reunir muitos sertanejos de fé extremada. O povoado é descrito como se
constituísse um agrupamento de bárbaros, uma tribo e até mesmo um clã. O autor
dá considerável destaque para o fator que chegado certo tempo, todo o tipo de
gente se dirige para Canudos o que causou um despovoamento das cidades
vizinhas. Porém uma vez dentro do arraial, os diferentes se tornavam iguais e a
coletividade de homogeinizava de uma forma que surpreendente.
“O sertanejo simples transmudava-se,
penetrando-o, no fanático destemeroso bruto. Absorvia-o a psicose coletiva”(GALVÃO,
1998: 163)
Em linhas gerais, podemos definir esta parte
do livro, o plano interpretativo de Bosi, a partir dos contrastes
nela enunciados. São eles os travados entre a região sul e norte do Brasil,
entre o litoral e o sertão nordestino, entre o sertão seco (infernal) e o
sertão depois da chuvas (padisíaco) e finalmente entre o mestiço do sertão –
curiboca – e o mestiço do litoral – mulato.
As descrições ricamente cheias de detalhes
preparam o leitor para o plano histórico onde os fatos de desencadearão. Mais
do que saber o que foi a Campanha, Euclides da Cunha nos oferece a partir de
seu livro um “raio x” do sertão e do sertanejo como nunca fora antes feito. O
leitor vai para “A Luta” sabendo quem e como vivem os atores deste triste
episódio da história brasileira.
O FINAL
É importante pensar no mito que se criou em
torno tanto do autor, quanto da obra. Existe ainda hoje uma relação passional
com a figura de Euclides: duas cidades brigam para decidir aonde vão ficar seus
restos mortais – São José do Rio Pardo, aonde escreveu o livro e Cantagalo,
hoje também conhecida como Euclidolândia, aonde nasceu. O livro, publicado
cinco anos após o fim de Canudos, mesmo sendo um ataque ao exército e uma
denúncia do genocídio causado pela República, é um sucesso e vende muito assim
que publicado. Criador e criatura viram ícones. Mas para entender a criação
deste mito, é preciso ver que este é um quebra-cabeça de várias partes.
O próprio Dante Moreira Leite, justifica a
importância e repercussão do livro por sua linguagem.
“Se assim é, se a obra de Euclides da
Cunha apresenta contradições tão nítidas – algumas das quais foram percebidas
pelos primeiros leitores e críticos – pode-se perguntar como pôde ter uma
repercussão tão grande. Esta não será compreendida se não lembrarmos o seu
valor literário; embora não seja livro fácil, nem destinado a uma leitura
desatenta, Os Sertões contém elementos de intensa dramaticidade, apresentados
numa linguagem solene e adequada à grandeza da narrativa”. (LEITE,
1983:229)
Talvez o que mais marcou sua vida, tanto
quanto sua obra, foi a sua viagem a canudos. Euclides era um cientificista,
dentre muitas outras coisas, que vivia em uma época em que não se “ia à luta”.
Teóricos trabalhavam apenas sobre livros, mas Euclides vai a Canudos e suas
idéias ganham dinâmica. Dante Moreira Leite analisa como tal experiência
repercutiu em uma linguagem muito mais realista e vibrante:
“(...) o estilo de Euclides, capaz de
transmitir ao leitor a vibração de revolta diante dos acontecimentos de
Canudos; além disso, como o livro pretende ser estritamente realista e, mais
ainda, um livro de ciência, a sua prosa dramática adquire, talvez por estar
contida nos limites da realidade histórica, uma intensidade que não teria na
ficção.” (LEITE, 1983:222)
Muitas de suas concepções são alteradas.
Diversas vezes, Canudos é associado ao movimento francês da Vendéia – como
aparece : “Canudos era a nossa Vendéia” – sendo visto como um movimento
monarquista por Euclides. Mas, “o contato direto com as condições físicas e
morais do sertanejo”(BOSI) , como defende Bosi, acabou por desmentir o
pressuposto.
No entanto, como depois também vai apontar
Bosi, a interpretação se achava presa a um sistema de pensar fatalista. Entre o
observador atento e a “cidadela-mundéu” dos jagunços havia mais do que um
simples olhar desprevenido: a fixação do homem e o relato da luta não se fariam
sem a tela das mediações ideológica e literária. Antônio Conselheiro vai ser
sempre o fruto mórbido de uma cultura propensa à desordem e ao crime. Como a
sociedade que o produziu, ele tende a reviver esquemas regressivos de conduta e
linguagem. Como aparece no livro:
“É natural que estas camadas profundas de
nossa estratificação étnica se sublevassem numa anticlinal extraordinária –
Antônio Conselheiro... As fases singulares da sua existência não são, talvez,
períodos sucessivos de uma moléstia grave, mas são, com certeza, resumo
abreviado, dos aspectos predominantes de mal social gravíssimo. Por isso o
infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma potência
superior, bater de encontro a uma civilização, indo para a história como
poderia ter ido para o hospício. Porque ele para o historiador não foi um
desequilibrado. Apareceu como integração de caracteres diferenciais – vagos,
indecisos, mal percebidos quando dispersos a multidão, mas enérgicos e
definidos, quando definidos numa ‘individualidade’ (... ) É difícil traçar no
fenômeno a linha divisória entre as tendências ‘pessoais e as tendências
coletivas: a vida resumida do homem é um capítulo instantâneo da vida de sua
sociedade...”
A linguagem, como já explicitamos
anteriormente, é extremamente marcante e importante em Os Sertões. Euclides se
utiliza inúmeras vezes de estilos e figuras com certas finalidades. Em suas
“Notas de Leitura”, ele mesmo afirma:
“Vemos o quanto é forte esta
alavanca – a palavra – que levanta sociedades inteiras, derriba tiranias
seculares”.
Bosi atenta par o uso da linguagem como modo de explicar e fundamentar o que não tem fundamento nem explicação, a “ideologia do inapelável”. Daqui se entende o uso exaustivo de intensificações e antinomias, que imprimem um sentido grandiloqüente ao texto, além de: “reportar ao seu vezo de agigantar o tamanho, agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as distâncias, acentuar as diferenças, exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em suma, ver nas coisas todas a sua face desmedida e extrema.” (BOSI: 6)
Um exemplo do próprio Sertões:
“Muito baixo no horizonte, o Sol descia vagarosamente, tangenciando com o limbo rutilante o extremo das chapadas remotas e o seu último clarão, a cavaleiro das sombras, que já se adunavam nas baixadas, caía sobre o dorso a montanha... Aclarou-o por momentos. Iluminou, fugaz, o préstito, que seguia à cadência das rezas. Deslizou, insensivelmente, subindo, à medida que lentamente ascendiam as sombras, até ao alto, onde os seus últimos raios cintilaram nos píncaros altaneiros. Estes fulguraram por instantes, como enormes círios, prestes acesos, prestes apagados, bruxuleando na meia-luz do crepúsculo.
Bosi atenta par o uso da linguagem como modo de explicar e fundamentar o que não tem fundamento nem explicação, a “ideologia do inapelável”. Daqui se entende o uso exaustivo de intensificações e antinomias, que imprimem um sentido grandiloqüente ao texto, além de: “reportar ao seu vezo de agigantar o tamanho, agravar o peso, acelerar o ritmo, alongar as distâncias, acentuar as diferenças, exasperar as tensões, radicalizar as tendências: em suma, ver nas coisas todas a sua face desmedida e extrema.” (BOSI: 6)
Um exemplo do próprio Sertões:
“Muito baixo no horizonte, o Sol descia vagarosamente, tangenciando com o limbo rutilante o extremo das chapadas remotas e o seu último clarão, a cavaleiro das sombras, que já se adunavam nas baixadas, caía sobre o dorso a montanha... Aclarou-o por momentos. Iluminou, fugaz, o préstito, que seguia à cadência das rezas. Deslizou, insensivelmente, subindo, à medida que lentamente ascendiam as sombras, até ao alto, onde os seus últimos raios cintilaram nos píncaros altaneiros. Estes fulguraram por instantes, como enormes círios, prestes acesos, prestes apagados, bruxuleando na meia-luz do crepúsculo.
Brilharam as primeiras estrelas.
Rutilando na altura, a cruz resplandecente de Órion, alevantava-se sobre os
sertões...”
(CUNHA, 1985:314,315)
Mas todo este estilo “rebuscado”, se explique pela narrativa tratar de uma realidade já vista e já sentida e qualificada como trágica. Assim, a montagem do relato acaba dependendo de uma série cronológica, o que deixa que a liberdade estilística se faça maior no momento da elocução (pelo uso intensivo das figuras de linguagem).
Mas todo este estilo “rebuscado”, se explique pela narrativa tratar de uma realidade já vista e já sentida e qualificada como trágica. Assim, a montagem do relato acaba dependendo de uma série cronológica, o que deixa que a liberdade estilística se faça maior no momento da elocução (pelo uso intensivo das figuras de linguagem).
E foi realmente este seu estilo que o
consagrou logo que publicou pela primeira vez Os Sertões, mesmo sendo o seu
conteúdo, quem traz sua importância: a de conseguir ultrapassar o científico,
ir à luta, ver, sentir e mudar.
Sua visão de mundo muda com sua vivência em
Canudos. Mas talvez seja um pouco complicado tratar da visão de mundo de um
homem tendo lido apenas um livro seu. Nicolau Sevcenko, em sua tese de
doutoramento, faz uma análise minuciosa do que ele mesmo entende por
“visão de mundo”, porém, para isso, se baseia em praticamente tudo que o autor
deixou escrito. Como aparece na referida tese:
“A partir da maneira como Euclides
da Cunha dispõe, dá coerência, organiza e estrutura as concepções e idéias que
lhe suscita a realidade circunjacente, no interior do espaço peculiar aberto
por sua linguagem, é que podemos descortinar a sua visão de mundo. Assumem
preponderância aqui as suas anotações de caráter mais pessoal, que serão
cotejadas com as grandes diretrizes imprimidas pelo autor à sua obra e que vêm
de ser apresentadas.” (SEVCENKO, 1981:211)
Porém, talvez sua visão cientificista e sua posição de republicano decepcionado ajudem a compreender seu mundo. Principalmente depois de Canudos, ele via uma inversão em sua sociedade. Mas o mais importante de pensar é como ele aparece como um homem de contradições e contrários. Tanto ele escreve e argumenta opondo elementos, como vive em um oscilar de posições. Quando Euclides vai a Canudos, perde este discurso factual e determinista; o inelutável e intransponível do fato vai cedendo às inflexões de um pensamento propriamente humano. A linguagem de denúncia e protesto que finaliza a narração de uma Canudos destruída cumpre a função de um apelo em que, como Bosi afirma: “pode aparecer um nós empenhado no que diz.”
Porém, talvez sua visão cientificista e sua posição de republicano decepcionado ajudem a compreender seu mundo. Principalmente depois de Canudos, ele via uma inversão em sua sociedade. Mas o mais importante de pensar é como ele aparece como um homem de contradições e contrários. Tanto ele escreve e argumenta opondo elementos, como vive em um oscilar de posições. Quando Euclides vai a Canudos, perde este discurso factual e determinista; o inelutável e intransponível do fato vai cedendo às inflexões de um pensamento propriamente humano. A linguagem de denúncia e protesto que finaliza a narração de uma Canudos destruída cumpre a função de um apelo em que, como Bosi afirma: “pode aparecer um nós empenhado no que diz.”
Então vamos ao final de canudos:
“Fechemos este livro.
Canudos não se rendeu. Exemplo único em
toda a História, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo,
na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os
seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous
homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil
soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os
seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre
profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha
altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem...
Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...
Ademais não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos?...
E de que modo comentaríamos, coma só
fragilidade da palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, desde a
manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio
Beatinho que se nos entregara, confiante – e a quem devemos preciosos
esclarecimentos sobre esta fase obscura da nossa história?
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram
de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5200, cuidadosamente contadas.
Antes, no amanhecer daquele dia,
comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de Antônio Conselheiro.
Jazia num dos casebres anexos à latada,
e foi encontrado graças à indicação de um prisioneiro. Removida breve camada de
terra, apareceu no triste sudário de um lençol imundo, em que mãos piedosas
haviam desprazido algumas flores murchas, e repousando sobre uma esteira velha,
de tabua, o corpo do ‘famigerado e bárbaro’ agitador. Estava hediondo. Envolto
no velho hábito azul de brim americano, mãos cruzadas ao peito, rosto tumefacto
e esquálido, os olhos fundos cheios de terra – mal o reconheceram os que mais
de perto o haviam tratado durante a vida.
Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva
preciosa – único prêmio, únicos despojos opimos de tal guerra! -- faziam-se
mister os máximos resguardos para que se não desarticulasse ou deformasse,
reduzindo-se a uma massa agulheta de tecidos decompostos.
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: importava que o país se convencesse bem de que estava, afinal extinto, aquele terribilíssimo antagonista.
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: importava que o país se convencesse bem de que estava, afinal extinto, aquele terribilíssimo antagonista.
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém,
depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes maldita – e como fora malbaratar o
tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente brandida, naquela mesma
atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de sânie,
apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores.
Trouxeram depois para o litoral, onde
deliravam multidões em festa, aquele crânio. Que a ciência dissesse a última
palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções expressivas, as linhas
essenciais do crime e da loucura...”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro acaba mas não termina. Com esta obra
o Brasil ganhava uma das suas mais importantes reflexões sobre a identidade
nacional. O escritor do início da obra, positivista que acreditava na
república, é o mesmo que denuncia a dor a fome e a barbárie. Canudos foi um
crime cometido para e pela reiteração da república. O cancro monarquista
nunca existiu naquela terra esquecida pelos seus governantes e o Estado só
chegara tão longe para trazer a injustiça e a morte. Essa não era a república
reclamada pelo autor.
Como identidade nacional, podemos tirar desta
obra a seguinte frase: “A nação brasileira é o resultado de uma
angústia racial”. Euclides sofre essa angústia da qual as “leis” européias
não dão conta. O Brasil é um país sem seu tipo antropológico definido e ele,
Euclides da Cunha, é o primeiro que se propões a fazer um estudo a fundo desses
cruzamentos todos que nos formam. Euclides não mascarou a realidade porque não
pregou uma falsa igualdade social entre as “raças”, o que seria feito por
outros como Oliveira Viana, ou Afonso Celso. Se hoje podemos enxergar mais
longe que Euclides é porque somos pigmeus olhando do ombro de gigantes
como ele.
Sites sobre Euclides de Cunha e Canudos
Centro de Estudos Euclides da Cunha
O Centro de Estudos Euclides da Cunha - CEEC, órgão da Universidade do Estado da Bahia - UNEB possui um acervo valioso sobre Canudos.
URL: www.uneb.br/Ceec/Ceec.html
O Centro de Estudos Euclides da Cunha - CEEC, órgão da Universidade do Estado da Bahia - UNEB possui um acervo valioso sobre Canudos.
URL: www.uneb.br/Ceec/Ceec.html
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Movimento Popular e Histórico de Canudos
"Uma viagem ao sertão de Antônio Conselheiro através das várias atividades culturais com os camponeses, incluindo cantorias, poesias, celebrações populares a beira do açude do Cocorobó, e muito mais..."
URL: www.infonet.com.br/canudos
"Uma viagem ao sertão de Antônio Conselheiro através das várias atividades culturais com os camponeses, incluindo cantorias, poesias, celebrações populares a beira do açude do Cocorobó, e muito mais..."
URL: www.infonet.com.br/canudos
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Centro de Estudos Culturais Euclides da Cunha
"Euclides da Cunha, Os Serrotes, Canudos e a Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo"
URL: www.geocities.com/Athens/7269
"Euclides da Cunha, Os Serrotes, Canudos e a Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo"
URL: www.geocities.com/Athens/7269
* * * * *
Canudos 100 Anos
"Site totalmente dedicado ao episódio da Guerra de Canudos. (...) Fotos, bibliografia, história e Fórum de Discussão".
URL: www.ax.apc.org/~eraldojunior/hp13.htm
"Site totalmente dedicado ao episódio da Guerra de Canudos. (...) Fotos, bibliografia, história e Fórum de Discussão".
URL: www.ax.apc.org/~eraldojunior/hp13.htm
* * * * *
Acervo da Historia do Brasil
"Coletânea de fatos históricos importantes ocorridos no Brasil. Os 100 anos de Canudos".
URL: www.e-net.com.br/historia
"Coletânea de fatos históricos importantes ocorridos no Brasil. Os 100 anos de Canudos".
URL: www.e-net.com.br/historia
* * * * *
O Olho da História
O Olho da História: Revista de História Contemporânea é um periódico semestral, editado pela Oficina Cinema-História, que tem o objetivo de promover discussões sobre a História, as humanidades e as artes na contemporaneidade. O número 3 da revista aborda o tema Canudos.
URL: www.ufba.br/~revistao/sumario3.html
O Olho da História: Revista de História Contemporânea é um periódico semestral, editado pela Oficina Cinema-História, que tem o objetivo de promover discussões sobre a História, as humanidades e as artes na contemporaneidade. O número 3 da revista aborda o tema Canudos.
URL: www.ufba.br/~revistao/sumario3.html
* * * * *
Canudos - A Guerra sem fim
CANUDOS - 100 ANOS. A Guerra Sem Fim. Antônio Edson.
URL: www.cidadanet.org.br/artigos/canudos.htm
CANUDOS - 100 ANOS. A Guerra Sem Fim. Antônio Edson.
URL: www.cidadanet.org.br/artigos/canudos.htm
* * * * *
Canudos
"Página com várias curiosidades sobre Canudos, feita por alunos do 2° ano colegial."
URL: www.geocities.com/CollegePark/Lab/6434/canudos.html
"Página com várias curiosidades sobre Canudos, feita por alunos do 2° ano colegial."
URL: www.geocities.com/CollegePark/Lab/6434/canudos.html
* * * * *
* * * * *
Os Sertões Illustrated
Página do pesquisador norte americano Thomas O. Beebee
URL:www2c.meshnet.or.jp/~taxi/07-97/sertao/sertoes1.html
Página do pesquisador norte americano Thomas O. Beebee
URL:www2c.meshnet.or.jp/~taxi/07-97/sertao/sertoes1.html
* * * * *
Site da Casa de Cultura Euclides da Cunha,
com vasto material sobre Euclides e Os Sertões
URL: http://http://www2.rantac.com.br/casaeuclidiana/
URL: http://http://www2.rantac.com.br/casaeuclidiana/
* * * * *
O Berrante Online é um site sobre temas
ligados a Euclides da Cunha e a realidade da cultura brasileira em geral
http://www.berrante.com.tj/
http://www.berrante.com.tj/
* * * * *
* * * * *
Página organizada pela família de Euclides da
Cunha
http://www.klepsidra.net/klepsidra3/www.euclidesdacunha.com.br
http://www.klepsidra.net/klepsidra3/www.euclidesdacunha.com.br
* * * * *
Textos e ficha técnica do documentário Os
Sertões produzido pela TV Cultura - SP
http://www.tvcultura.com.br/resguia/outros/estbra/sertoes/canud.htm
http://www.tvcultura.com.br/resguia/outros/estbra/sertoes/canud.htm
* * * * *
Os mais completos sites sobre Canudos
http://www.portfolium.com.br/livro.htm
http://www.portfolium.com.br/caudos.htm
http://www.portfolium.com.br/livro.htm
http://www.portfolium.com.br/caudos.htm
Estudos realizados sobre o livro
“Os Sertões” de Euclides da Cunha
1. Título: Os Sertões - Campanha de Canudos
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902.
Assunto: História, Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Um clássico seminal da literatura canudense, que influenciou várias gerações de estudiosos, denominado pelo próprio autor de "livro vingador". Durante mais de 50 anos foi texto hegemônico do tema Canudos, e atualmente está traduzido para mais de 10 idiomas e com número superior a 40 edições brasileiras.
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902.
Assunto: História, Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Um clássico seminal da literatura canudense, que influenciou várias gerações de estudiosos, denominado pelo próprio autor de "livro vingador". Durante mais de 50 anos foi texto hegemônico do tema Canudos, e atualmente está traduzido para mais de 10 idiomas e com número superior a 40 edições brasileiras.
2. Título: Os Sertões de Euclides da Cunha
Autor: Pedro A. Pinto
Imprenta: 1ª edição: Livraria Francisco Alves, 1930.
Assunto: Os Sertões, Canudos.
Resumo: "É uma espécie de dicionário sobre o vocabulário usado por Euclides e explicações sobre termos regionais." Júlio José Chiavenato.
3. Título: Canudos - Diário de uma Expedição
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta:1ª edição: Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Editora, 1939, 186 p.
Assunto: Canudos
Resumo: Escritos de Euclides da Cunha, em publicação póstuma com introdução de Gilberto Freyre, que descreve de forma minuciosa a viagem por Salvador e Canudos, através de crônicas, apontamentos e cartas, além dos artigos escritos em jornais.
Autor: Pedro A. Pinto
Imprenta: 1ª edição: Livraria Francisco Alves, 1930.
Assunto: Os Sertões, Canudos.
Resumo: "É uma espécie de dicionário sobre o vocabulário usado por Euclides e explicações sobre termos regionais." Júlio José Chiavenato.
3. Título: Canudos - Diário de uma Expedição
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta:1ª edição: Rio de Janeiro, Liv. José Olympio Editora, 1939, 186 p.
Assunto: Canudos
Resumo: Escritos de Euclides da Cunha, em publicação póstuma com introdução de Gilberto Freyre, que descreve de forma minuciosa a viagem por Salvador e Canudos, através de crônicas, apontamentos e cartas, além dos artigos escritos em jornais.
4. Título: As Colectividades Anormais
Autor: Nina Rodrigues
Imprenta: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.
Assunto: Medicina, Antônio Conselheiro
Resumo:
Autor: Nina Rodrigues
Imprenta: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.
Assunto: Medicina, Antônio Conselheiro
Resumo:
5. Título: Meu Folclore - História da Guerra
de Canudos
Autor: J. Sara
Imprenta: 1ª edição: Euclides da Cunha, Museu de Bendegó, 1957.
Assunto: Guerra de Canudos
Resumo:A história de canudos, versejada por José Aras, que adotou o pseudônimo de J. Sara.
Autor: J. Sara
Imprenta: 1ª edição: Euclides da Cunha, Museu de Bendegó, 1957.
Assunto: Guerra de Canudos
Resumo:A história de canudos, versejada por José Aras, que adotou o pseudônimo de J. Sara.
6. Título: A Verdade sobre Os Sertões -
Análise Reivindicatória da Campanha de Canudos
Autor: Dante de Melo
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1958, 257 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: Crítica veemente a Euclides da Cunha e Os Sertões, que, segundo o autor, teria uma visão falsa, dos acontecimentos de Canudos.
Autor: Dante de Melo
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1958, 257 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: Crítica veemente a Euclides da Cunha e Os Sertões, que, segundo o autor, teria uma visão falsa, dos acontecimentos de Canudos.
7. Título: A' Margem D"Os Sertões"
Autor: Luís Viana Filho
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Livraria Progresso Editora, 1960, 50 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: O autor escreve ativa defesa do seu pai, o conselheiro Luís Viana, governador da Bahia na época da guerra de Canudos, das acusações que lhe foram destinadas por Dante de Melo no livro
"A Verdade sobre Os Sertões"
Autor: Luís Viana Filho
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Livraria Progresso Editora, 1960, 50 p.
Assunto: Os Sertões, Canudos
Resumo: O autor escreve ativa defesa do seu pai, o conselheiro Luís Viana, governador da Bahia na época da guerra de Canudos, das acusações que lhe foram destinadas por Dante de Melo no livro
"A Verdade sobre Os Sertões"
8. Título: Introdução ao Pensamento de
Euclides da Cunha
Autor: Clóvis Moura
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1964, 166 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Um importante trabalho de análise sobre Eulcides da Cunha e sua obra.
Autor: Clóvis Moura
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1964, 166 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Um importante trabalho de análise sobre Eulcides da Cunha e sua obra.
9. Título: Caderneta de Campo
Autor: Euclides da Cunha
Notas: Introdução, notas e comentários de Olímpio de Souza Andrade
Imprenta: São Paulo, Cultrix / INL, 1975, 198 p.
Assunto: Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Este livro reproduz alguns dos mais importantes momentos dos textos canudenses como benditos, ABCs e falas de prisioneiros.
Autor: Euclides da Cunha
Notas: Introdução, notas e comentários de Olímpio de Souza Andrade
Imprenta: São Paulo, Cultrix / INL, 1975, 198 p.
Assunto: Sertão, Guerra de Canudos
Resumo: Este livro reproduz alguns dos mais importantes momentos dos textos canudenses como benditos, ABCs e falas de prisioneiros.
10. Título: O Episódio de Canudos de Euclides
da Cunha
Autor: Grover Chapman.
Imprenta: Rio de Janeiro, Salamandra, 1978, 56 p.
Assunto: Pinturas, Canudos, "Os Sertões"
Resumo: Trechos de "Os Sertões" ilustrados com pinturas de Grover Chapman
Autor: Grover Chapman.
Imprenta: Rio de Janeiro, Salamandra, 1978, 56 p.
Assunto: Pinturas, Canudos, "Os Sertões"
Resumo: Trechos de "Os Sertões" ilustrados com pinturas de Grover Chapman
11. Título: 80 anos de Os Sertões de Euclides
da Cunha (1902-1982)
Coordenação: Célio Pinheiro
Imprenta: São Paulo: Arquivo do Estado, 1982.
Assunto: Edição comemorativa.
Resumo:
Coordenação: Célio Pinheiro
Imprenta: São Paulo: Arquivo do Estado, 1982.
Assunto: Edição comemorativa.
Resumo:
12. Título: Toponímia Indigenista em Os
Sertões de Euclides da Cunha.
Autor: Daury da Silveira Santos
Imprenta: Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.
Assunto: Euclides da Cunha
13. Título: Euclides, A Espada e a Letra - Florianistas e Castilhistas no Massacre de Canudos, Comte e outras influências reacionárias, as antecipações do autor de Os Sertões
Autor: Franklin de Oliveira.
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, 144 p.
Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo:
Autor: Daury da Silveira Santos
Imprenta: Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 1983.
Assunto: Euclides da Cunha
13. Título: Euclides, A Espada e a Letra - Florianistas e Castilhistas no Massacre de Canudos, Comte e outras influências reacionárias, as antecipações do autor de Os Sertões
Autor: Franklin de Oliveira.
Imprenta: 1ª edição: Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, 144 p.
Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo:
14. Título: Os Médicos Baianos e
"Canudos"
Autor: Alberto Martins da Silva.
Imprenta: 1ª edição: Salvdor, IHGB, s.d., 17 p.
Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo: Opúsculo onde o autor apresenta dados biograficos dos médicos que participaram da Guerra de Canudos
15. Título: Edição Crítica de "Os Sertões"
Autora: Walnice Nogueira Galvão
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Brasiliense, 1985, 728 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: O livro Os Sertões numa publicação explicativa e crítica.
Autor: Alberto Martins da Silva.
Imprenta: 1ª edição: Salvdor, IHGB, s.d., 17 p.
Assunto: Biografia, Euclides da Cunha
Resumo: Opúsculo onde o autor apresenta dados biograficos dos médicos que participaram da Guerra de Canudos
15. Título: Edição Crítica de "Os Sertões"
Autora: Walnice Nogueira Galvão
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Brasiliense, 1985, 728 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: O livro Os Sertões numa publicação explicativa e crítica.
16. Título: Sertão de Euclides da Cunha -
Família e Poder: uma Leitura
Autora: Eugênia Menezes Vernaide Wanderley
Imprenta: Recife: Cadernos de Estudos Sociais, v.7, n.2, p. 277-304, jul./dez. 1991.
Assunto: Canudos, Euclides da Cunha (1866-1909)
Resumo:
Autora: Eugênia Menezes Vernaide Wanderley
Imprenta: Recife: Cadernos de Estudos Sociais, v.7, n.2, p. 277-304, jul./dez. 1991.
Assunto: Canudos, Euclides da Cunha (1866-1909)
Resumo:
17. Título: Canudos e Outros Temas
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: 1992.
3ª edição Revista e Ampliada: Gráfica do Senado Federal, 1994.
Assunto: Canudos, Reportagens
Resumo: Contém as reportagens intituladas "Canudos - Diário de uma Expedição", que deram origem a Os Sertões, quinze trabalhos e duas cartas.
18. Título: As Meninas de Belo Monte
Autor: Júlio José Chiavenato
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Pagina Aberta, 1993.
Assunto: Romance, Canudos
Resumo: Ficção sobre a trajetória de crianças sobreviventes de Canudos.
Autor: Euclides da Cunha
Imprenta: 1ª edição: 1992.
3ª edição Revista e Ampliada: Gráfica do Senado Federal, 1994.
Assunto: Canudos, Reportagens
Resumo: Contém as reportagens intituladas "Canudos - Diário de uma Expedição", que deram origem a Os Sertões, quinze trabalhos e duas cartas.
18. Título: As Meninas de Belo Monte
Autor: Júlio José Chiavenato
Imprenta: 1ª edição: São Paulo, Pagina Aberta, 1993.
Assunto: Romance, Canudos
Resumo: Ficção sobre a trajetória de crianças sobreviventes de Canudos.
19. Título: A Sociologia dos Sertões
Autor: Adelino Brandão
Imprenta: Artium Editora, 1994, 194 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Análise de Os Sertões, escrito por um estudioso da vida e da obra de Euclides da Cunha.
Autor: Adelino Brandão
Imprenta: Artium Editora, 1994, 194 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: Análise de Os Sertões, escrito por um estudioso da vida e da obra de Euclides da Cunha.
20. Título: Euclides da Cunha e Guimarães
Rosa, Através dos Sertões - Os Livros, os Autores
Autor: Paulo Dantas Neto
Imprenta: São Paulo: Massao Ohno, 1996, 112 p.
Assunto: Biografias de Literatos, Literatura Brasileira
Resumo:
Autor: Paulo Dantas Neto
Imprenta: São Paulo: Massao Ohno, 1996, 112 p.
Assunto: Biografias de Literatos, Literatura Brasileira
Resumo:
21. Título: O Olho da História - Revista de
História Contemporânea, v.2, n.3
Autoria: Vários
Imprenta: Salvador, Oficina Cinema-História, Departamento e Mestrado em História - UFBA, 1996
Assunto: Cinema, Canudos, Antônio Conselheiro
Resumo: Revista que contém um Dossiê Canudos com importantes artigos e entrevistas sobre o temas.
Autoria: Vários
Imprenta: Salvador, Oficina Cinema-História, Departamento e Mestrado em História - UFBA, 1996
Assunto: Cinema, Canudos, Antônio Conselheiro
Resumo: Revista que contém um Dossiê Canudos com importantes artigos e entrevistas sobre o temas.
22. Título: Índice Remissivo: Documentação
Histórica sobre Canudos.
Autoria: CEEC - UNEB
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Universidade do Estado da Bahia, Centro de Estudos Euclides da Cunha, 1996, 64 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo:
Autoria: CEEC - UNEB
Imprenta: 1ª edição: Salvador, Universidade do Estado da Bahia, Centro de Estudos Euclides da Cunha, 1996, 64 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo:
23. Título: Guia do Acervo do CEEC
Imprenta: 1ª edição: Salvador, CEEC-UNEB, 1997, 60 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo: Valioso instrumento de consulta sobre o acervo do Centro de Estudos Euclides da Cunha, que compreende documentação escrita e oral, além de vasta biblioteca.
24. Título: Roteiro de Leitura: Os Sertões de Euclides da Cunha
Autor: Adilson Citelli
Imprenta: Editora Ática, 1998, 160 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: "Roteiro de leitura é uma coleção didática que tem por objetivo enriquecer a leitura de obras significativas da literatura brasileira e da literatura portuguesa, abrangendo diversos períodos e gêneros literários. Escrita com clareza e objetividade, é dirigida a estudantes de segundo grau, pré vestibulandos, alunos de letras, jornalismo, comunicação e a todos que se interessam por literatura."
Os Editores.
25. Título: Poemas do Grande Sertão
Autor: Renato Castello Branco
Imprenta: T. A. Queiroz Editor
Resumo: Livro de poesias baseado na obra de Euclides da Cunha.
Imprenta: 1ª edição: Salvador, CEEC-UNEB, 1997, 60 p.
Assunto: Documentos Históricos, Canudos
Resumo: Valioso instrumento de consulta sobre o acervo do Centro de Estudos Euclides da Cunha, que compreende documentação escrita e oral, além de vasta biblioteca.
24. Título: Roteiro de Leitura: Os Sertões de Euclides da Cunha
Autor: Adilson Citelli
Imprenta: Editora Ática, 1998, 160 p.
Assunto: Euclides da Cunha, Canudos
Resumo: "Roteiro de leitura é uma coleção didática que tem por objetivo enriquecer a leitura de obras significativas da literatura brasileira e da literatura portuguesa, abrangendo diversos períodos e gêneros literários. Escrita com clareza e objetividade, é dirigida a estudantes de segundo grau, pré vestibulandos, alunos de letras, jornalismo, comunicação e a todos que se interessam por literatura."
Os Editores.
25. Título: Poemas do Grande Sertão
Autor: Renato Castello Branco
Imprenta: T. A. Queiroz Editor
Resumo: Livro de poesias baseado na obra de Euclides da Cunha.
26. Título: Terra Ignota - A Construção de
"Os Sertões"
Autor: Luiz Costa Lima
Imprenta: Civilização Brasileira
Assunto: Os Sertões, Canudo
Autor: Luiz Costa Lima
Imprenta: Civilização Brasileira
Assunto: Os Sertões, Canudo
27. Título: Canudos - Fato e Fabula: Uma
Leitura d'Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Autor: Lourival Holanda Barros
Orientador: Philippe Willemart
Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP.
Tipo de Trabalho: Tese (Doutorado), 129 p.
Ano: 1992
Assunto: Crítica Literária, Literatura Brasileira.
Localização: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP
Resumo:
Autor: Lourival Holanda Barros
Orientador: Philippe Willemart
Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP.
Tipo de Trabalho: Tese (Doutorado), 129 p.
Ano: 1992
Assunto: Crítica Literária, Literatura Brasileira.
Localização: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP
Resumo:
28. Título: A Contribuição das Ciências
Naturais para o Consórcio da Ciência e da Arte em Euclides da Cunha
Autor: José Carlos Barreto de Santana
Orientadora: Maria Amélia Mascarenhas Dantes
Instituição: Universidade de São Paulo / USP - SP
Tipo de Trabalho: Dissertação (Mestrado)
Ano: 1998
Assunto:
Localização: Biblioteca da USP - SP
Resumo: Este trabalho tem, como ponto de partida, o estudo das relações existentes entre um dos discursos científicos euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse campo do conhecimento. Entendo que a formação e atuação como engenheiro, e as relações de Euclides da Cunha com a comunidade cientifica, bem como a existência, na sua obra, de um conteúdo relacionado às Ciências Naturais e a inclusão, no próprio texto, de referências explícitas a viajantes naturalistas, geólogos e botânicos, devem refletir o momento histórico pelo qual passava o conhecimento científico no Brasil, entre o final do século XIX e o limiar do século XX. Assim, a formação, as relações, a presença de tal conteúdo e tais referências, indicam a possibilidade de o autor e da obra servirem como elementos para uma reflexão sobre a prática científica no país, no período indicado.
Buscar-se-á, assim, contribuir para o entendimento de questões relacionadas com o conceito e valorização das ciências e também para a análise de aspectos da profissionalização e relação entre os cientistas no Brasil do final do século XIX e início do século XX.
Euclides da Cunha e sua obra são escolhidos, então, como objeto privilegiado de uma pesquisa que pretende situá-los no contexto cultural de seu tempo e espaço, ao mesmo tempo em que busca as marcas da atividade científica, procurando desvendar, através da sua estrutura, interligação e desdobramentos, as suas relações com outras áreas culturais.
Autor: José Carlos Barreto de Santana
Orientadora: Maria Amélia Mascarenhas Dantes
Instituição: Universidade de São Paulo / USP - SP
Tipo de Trabalho: Dissertação (Mestrado)
Ano: 1998
Assunto:
Localização: Biblioteca da USP - SP
Resumo: Este trabalho tem, como ponto de partida, o estudo das relações existentes entre um dos discursos científicos euclidianos, o das Ciências Naturais, e as atividades e teorias nesse campo do conhecimento. Entendo que a formação e atuação como engenheiro, e as relações de Euclides da Cunha com a comunidade cientifica, bem como a existência, na sua obra, de um conteúdo relacionado às Ciências Naturais e a inclusão, no próprio texto, de referências explícitas a viajantes naturalistas, geólogos e botânicos, devem refletir o momento histórico pelo qual passava o conhecimento científico no Brasil, entre o final do século XIX e o limiar do século XX. Assim, a formação, as relações, a presença de tal conteúdo e tais referências, indicam a possibilidade de o autor e da obra servirem como elementos para uma reflexão sobre a prática científica no país, no período indicado.
Buscar-se-á, assim, contribuir para o entendimento de questões relacionadas com o conceito e valorização das ciências e também para a análise de aspectos da profissionalização e relação entre os cientistas no Brasil do final do século XIX e início do século XX.
Euclides da Cunha e sua obra são escolhidos, então, como objeto privilegiado de uma pesquisa que pretende situá-los no contexto cultural de seu tempo e espaço, ao mesmo tempo em que busca as marcas da atividade científica, procurando desvendar, através da sua estrutura, interligação e desdobramentos, as suas relações com outras áreas culturais.
BIBLIOGRAFIA
SCHWARCZ, Lilia Mortiz, O Espetáculo das
Raças - Cientistas, Instituições e questão racial no Brasil 1870 - 1930 São
Paulo, Cia das Letras, 1993.
SKIDEMORE, Thomas E., O Brasil Visto de
Fora, Rio de Janeiro Paz na Terra, 1994.
VENTURA Roberto. CANUDOS COMO CIDADE
ILETRADA: EUCLIDES DA CUNHA NA URBS MONSTRUOSA, Extraído de: Abdala Jr,
Benjamin & Alexandre, Isabel, orgs. Canudos Palavra de Deus Povo da Terra.
São Paulo, Editora Senac São Paulo, Boitempo Editorial, 1997. p. 89-99.
SEVCENKO, Nicolau; Euclides da Cunha e
Lima Barreto: A Literatura como missão, 1900-1920.Tese de doutoramento,
departamento de História FFLCH – USP, São Paulo 1981.
GALVÃO, Walnice Nogueira. “Os Sertões –
Campanha de Canudos : Edição Crítica de”. Ática, 1998, p.14
LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional
brasileiro. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1983, 4a edição
BOSI, Alfredo : “A releitura de ‘Os
sertões’ hoje”. Arquivo retirado da Internet
A TERRA (58 páginas)
O autor começa descrevendo, geograficamente, o grande maciço
central brasileiro para chegar à região do Vaza-Barris, ao norte da Bahia, onde
se passou a Campanha de Canudos. Demarca-a, e descreve sua flora, sua formação
geológica e a influência do clima. Procura interpretar sua evolução geológica.
Estuda-lhe a hidrografia e a conformação orográfica.
Volta a considerar o clima da região expondo uma teoria sobre
as secas. Descreve geograficamente as caatingas com toda sua flora específica e
a influência que elas sofrem dos climas. Então chega ao “agente geológico
notável – o homem que, reagindo brutalmente contra a terra madrasta, vem,
historicamente desnudando-o, fazendo desertos.
Considera as maneiras de combater os desertos com açudes,
etc. Só assim combateria o martírio que ali sofre o homem e que é conseqüência
do “martírio secular da Terra”.
Com a descrição do sertão de Canudos sumaria toda a fisiografia
do Nordeste.
O HOMEM (149 páginas)
Inicia, expondo o autoctonismo do “homo americanus”. Depois
considera a influência da variabilidade mesológica nos três elementos
essenciais de nossa formação étnica, dando a gênesis das sub-raças, mestiças,
do Brasil. Daí a heterogeneidade racial brasileira e a impossibilidade de
futura unidade de raça entre nós, devido a particularidades específicas de cada
elemento formador, tão díspar. Para confirmar sua teoria cita exemplos em nossa
História.
Mostra o jagunço em sua gênesis, esparramando-se do Maranhão
a Bahia, passando pela gênesis do mulato. Expõe a função histórica do Rio São
Francisco na dinâmica social dos jagunços, descendentes de paulistas, e no
aparecimento dos vaqueiros que se insularam nas regiões do interior. Nesse
ponto surge Canudos, aglomerado de alimentos de uma subcategoria étnica já
constituída: o sertanejo do norte. Mas a mistura de várias raças dá o tipo
desequilibrado, possuidor da moralidade rudimentar das raças inferiores.
Insulados, ficaram porém livres de uma adaptação, penosíssima, a um estágio
social superior. Faz análises desses nossos patrocínios: o sertanejo, o gaúcho,
estabelecendo comparações entre eles. Fala sobre o jagunço, as vaquejadas, a
arribada.
Descreve as tradições dos vaqueiros, o estouro da boiada, o
folclore, a influência das secas, a religiosidade mestiça. Conclui que as
agitações sertanejas são baseadas no fanatismo. Canudos, por exemplo, é uma
agitação nordestina, baseada no fanatismo. Monte Santo já era um lugar lendário.
Daquela complexidade étnica e sob aquelas influências ecológicas e sociológicas
era inevitável o aparecimento de um Antônio Conselheiro. Fizeram-no santo
devido ao seu misticismo estranho, quase um feiticeiro. Ele não deslizou para a
loucura, porque o ambiente o amparou, respeitando-o. Antônio Conselheiro
descendia de cearenses do norte, de gente arrelienta que há 50 anos sustentava
uma rixa de família. Infeliz no casamento-abandonado pela esposa raptada por um
policial, e por isso fulminado de vergonha - embrenha-se nos recessos dos
sertões, surgindo incógnito, missionário sombrio, no nordeste baiano. Era
produto condensado do obscurantismo de três raças, criando em torno de si
lendas que se espalhavam por toda aquela imensa região. A Igreja tentou
intervir, inutilmente. Canudos, que era um lugarejo obscuro antes da vinda do
Conselheiro, revivesse com sua chegada, em 1893, crescendo rapidamente, a pau a
pique, chegando a possuir 5000 casas, com 15000 a 20000 habitantes.
Todo sertanejo que ali chegasse tornava-se logo um fanático.
E, como muitos deles eram bandidos, saqueavam lugarejos, conquistavam cidades
vizinhas, depredando-as. Eram subchefes do Conselheiro; José Venâncio, com 18
mortes; Pajeú e seu ajudante – de – ordens Lalau; Chiquinho e João da Mota,
Pedrão, cafuz brutal; Estevão, disforme, tatuado à faca e à bala; Joaquim
Tranca-pés; “Major”Sariema; o tragi-cômico Raimundo Boca-Torta, do Itapicuru; o
ágil Chico Ema; Norberto; o velho Macambira e seu filho Joaquim; Villa-Nova; a
figura ridícula, de mulato espigado, de Antônio Beato, meio sacristão e meio
soldado; e o chefe de todos João Abbade. Pregavam contra a República, sem
convicção, mais “como variante forçada ao delírio religioso”. Um capuchinho lá
estivera para converte-los todos. Nada conseguira. Voltando, amaldiçoa a vida.