AÍ A MINHA HISTÓRIA FICOU ASSIM:...
É uma história curiosa a que lhe vou contar.
Mas é uma história,
e não um romance.
Há mais de 2 anos;
seriam 6 horas da tarde, dirigí-me ao... para tomar o ônibus de...
- sabe que sou do
tipo o mais pontual que há neste mundo, entre as minhas imensas virtudes e
minhas poucas qualidades.
Mas neste dia,
chegando lá, não vi mais ônibus algum.
Fiquei sabendo por
alguém que havia partido há 5 minutos. Resignei-me, e esperei pelo seguinte,
das 7 horas.
Anoiteceu.
-
fazia uma noite de inverno fresca
e úmida.
O céu estava calmo
e... sem estrelas.
À hora marcada chegou, e apressei-me a ir tomar
o meu lugar.
Procurei, como de
costume, o fundo:
-
a fim de ficar livre das
conversas monótonas.
O
canto já estava ocupado por um “monte de sedas”, que deixou escapar um ligeiro
farfalhar, afastando-se para dar-me lugar.
Sentei-me.
-
prefiro sempre o contato da seda
à vizinhança da “casimira”
ou do pano.
O meu primeiro
cuidado foi ver se conseguia descobrir o rosto
e a formas que e
escondiam nessas nuvens de rendas.
Era impossível.
Além da noite estar
mais escura que o normal, um maldito véu caía sobre seu rosto, o que não
deixava a menor esperança.
Resignei-me mais
uma vez.
Melhor era cuidar
de outra coisa.
Já quando meu
pensamento voava em outros espaços, em outro mundo, de repente fui impelido a
voltar.
Foi quando eu senti
no meu braço o contato suave de um outro braço, que me parecia tão... macio.
Quis recuar, mas
não tive ânimo; deixei-me ficar na mesma posição, e cismei que estava sentado
perto de uma mulher que me “amava” e que
se apoiava sobre mim.
Pouco e pouco fui
cedendo àquela atração irresistível, e reclinando-me insensivelmente.
A pressão tornou-se
mais forte; senti o seu ombro tocar de leve o meu peito, e a minha mão
impaciente encontrou a sua mão, que deixou-se apertar a medo.
Assim,
fascinado ao mesmo tempo pela minha ilusão e por esse contato voluptuoso,
esqueci-me, a ponto que, sem saber o que fazia, inclinei a cabeça e colei os
meus lábios ardentes nesse ombro, que estremeceu de emoção.
Ela
soltou um grito, que foi tomado naturalmente, pelos outros, como um susto
causado pelos solavancos do ônibus, e refugiou-se no canto.
Meio
arrependido do que tinha feito, disse-lhe quase ao ouvido:
-
perdão!
Não
respondeu.
-
vou
descer. Não a incomodarei mais.
Mas
senti outra vez a sua mão apertando a minha, como para
impedir-me de sair.
Está
entendido que não resisti, e deixei-me ficar.
Como
se não bastasse, fui envolvido por uma onda de perfume vindo dela, que se
infiltrou em minha alma como um eflúvio celeste.
Entorpeceu-me
e... nesse momento...
Não
se admirem. Tenho uma teoria a respeito dos perfumes e das cores. Dada a cor
predileta de uma mulher desconhecida, o seu modo de trajar e o seu perfume
favorito: de todos os indícios, porém, o mais seguro é o perfume; e isto por um
segredo da natureza, por uma lei misteriosa da criação, que não sei explicar.
Fugiu-me
rápido... eu tinha perdido a minha visão; só meus ouvidos atentaram para ouvir:
-
non
ti scordar di me!...
não
sei mais nada, além de que... a desejava.
(...)
15 dias se passaram depois da
minha aventura, e não havia um só dia em que eu não fosse até lá e pegasse o
mesmo ônibus, mas eu não a reencontrei.
Foi
quando o milagre aconteceu no momento em que já tinha acabado com as minhas
esperanças; senti aquele mesmo perfume, e dentro da minha alma ressoou de novo:
-
“...”
olhei
aflito para todos os lados... não vi nenhuma dama.
Alguma
coisa me chamava até o teatro.
Entrei,
me assentei no lugar de sempre e... novamente o perfume me envolveu, e...
tudo se repetiu; não só mais aquela
vez; dezenas e dezenas, já era habitual aquilo tudo.
(...)
Eu tinha adivinhado que era ela.
Me
fixei naquela figura feminina e... de repente comecei a sentir um prazer
indefinível em olhar aquelas rendas e fitas que me impediam de reconhecê-la,
mas que ao menos lhe pertenciam.
Não
me foi dado o poder de dirigir-me até ela, e em outro de repente anunciou-se o
início do espetáculo. Eu me perdi entre todos.
-
te
perdi mais uma vez.
(...)
Me senti ridículo por esse tempo
todo.
Tive então um movimento de despeito e quase de
raiva por perseguir e amar fielmente uma sombra: um mistério.
-
o
orgulho da mais vaidosa mulher deve ficar satisfeito.
(...)
Achei em casa uma carta e uma
caixinha.
Antes
de abri-la conheci que era dela, porque lhe tinha imprimido esse suave perfume
que a cercava como uma aura.
Eis
o que dizia:
-
Julga
mal de mim.
Nenhuma
mulher pode escarnecer de um nobre coração como o seu.
Se
me oculto, se fujo, é porque há uma fatalidade que a isto me obriga.
E
só Deus sabe quanto me custa este sacrifício, porque o amo!
Mas
não devo ser egoísta e trocar sua felicidade por um amor desgraçado.
Esquece-me.
Addio!...
“C”.
(...)
Quando abri a caixinha ouvi sair
de lá a nossa música: (?)
Parecia-me
que naquela caixa estava encerrada a minha vida:
-
e
a sua.
Alguns
fios de cabelo e um pequeno diário daquele ano, completamente preenchido:
totalmente, do começo ao fim; onde você resumiu todos os dias de sua vida até
alí e então.
(...)
Tive que retornar à minha
infância para entender tudo.
Você
falou-me de uma garotinha de 12 anos, esquisita, que conheci quando tinha meus
15 anos.
Descreveu-me
como feia, tímida e arredia, e que costumava seguir-me sempre debaixo dos meus
“maus-tratos” verbais, que faziam-na chorar.
-
esta
era uma das primeiras páginas escritas.
Eu
descobri que ao contrário do que pensava, ser eu a sua sombra, você houvera
sido a minha, e... por tanto tempo!
(...)
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