Pode-se escrever em prosa ou em verso.
Quando se escreve em prosa,
a gente enche a linha do caderno até o fim,
antes de passar para a outra linha.
E assim por diante até o fim da página.
Em poesia não: a gente muda de linha antes do fim,
deixando um espaço em branco antes de ir para a linha seguinte.
Essas linhas incompletas se chamam de versos.
Acho que o espaço em branco é para o leitor poder ficar pensando.
Pensando bem no que o poeta acabou de dizer.
Algumas vezes, lendo um verso, a gente tem de
voltar aos versos de trás para entender
melhor o que ele quer dizer.
Principalmente quando há uma rima, isto é,
uma palavra com o mesmo som de outra lida há pouco.
Então a gente vai procurá-la para ver se é isso mesmo.
A prosa é como trem, vai sempre em frente.
A poesia é como o pêndulo dos relógios de parede de antigamente,
que ficava balançando de um lado para outro.
Embora balançasse sempre no mesmo lugar,
o pêndulo não marcava sempre a mesma hora.
Avançava de minuto a minuto,
registrando a passagem das horas: 1, 2, 3, até 12.
Também a poesia vai marcando,
na passagem da vida, cada minuto importante dela.
De tanto ir e vir de um verso a outro,
de uma rima a outra,
a gente acaba decorando um poema e guardando-o na memória.
E quando vê acontecer alguma coisa parecida
com um poema que já leu, a gente logo se recorda dele.
Geralmente, a prosa entra por um ouvido e sai pelo outro.
A poesia, não: entra pelo ouvido e fica no coração.
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